terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

África preocupada com espólio, insegurança alimentar e diáspora


da EFE na folha.com

Dacar.- As novas práticas do espólio da África, consideradas por alguns como outra forma de colonização, centraram alguns dos debates desta terça-feira no Fórum Social Mundial que está sendo realizado em Dacar.

A segurança alimentar é uma preocupação no continente, que alia organizações africanas a ecologistas europeias na denúncia de ataques aos mares da África Ocidental, roubo de terras, aquisições em grande escala, melhor regulamentação e reforma agrária.

Nesta terça-feira, as eurodeputadas Verdes Ska Keller e Isabella Lövin uniram suas vozes de denúncia a Amadou Kanouté, diretor do instituto da cidadania, consumidores e do desenvolvimento na África (Cicodev), a camponeses e pescadores da região.

A aquisição de grandes extensões de terras agrícolas por empresas nacionais e estrangeiras, com métodos pouco claros aproveitando legislações frágeis, conforme Kanouté, a preços "extremamente baixos" condenam famílias, vítimas do "engano", da fome e da emigração, primeiro internamente dentro das grandes cidades do país e depois no estrangeiro.

A crise alimentar, a crescente demanda mundial por cereais, a volatilidade dos preços e a crise econômica são alguns dos fatores citados no relatório apresentado por Kanouté para explicar o interesse de investidores estrangeiros em comprar grandes extensões na África, onde calculam 45 milhões de hectares de terra agrícola. Alguns países asiáticos, como China e Japão, foram citados entre os que mais interesse demonstra em adquirir terras.

No caso do Senegal, com 657 mil hectares e 16,45% das terras cultiváveis do país pertencem a dez proprietários privados nacionais e a sete estrangeiros, conforme Kanouté, quem advertiu que esta tendência também tem suas implicações negativas no meio ambiente.

Com relação à pesca, apesar do Governo senegalês ter suspendido desde 2006 os acordos com a União Europeia, os navios europeus seguem trabalhando e em condições menos transparentes, segundo Mamadou Lamine Niasse, do sindicato internacional de apoio à pesca.

Às empresas mistas já não são aplicadas os critérios que garantiam um mínimo de transparência nas atuações dos navios estrangeiros, acrescentou ao ressaltar que com a atual opacidade é quase impossível conhecer o número de navios que trabalham nas águas do Senegal.

A concessão de licenças de pesca produziu uma exploração exagerada reduzindo os recursos pesqueiros até espécies consideradas alimentos básicos pela maioria dos senegaleses.

Denunciou mais especificamente as atuações de navios russos que levam espécies oceânicas e advertiu que no longo prazo isso poderia ter como consequência uma ameaça para segurança alimentar do país.

Outra consequência mencionada por Niasse é o fechamento de boa parte das indústrias pesqueiras, o desemprego de milhares de trabalhadores do setor e a ameaça de longo prazo para a pesca artesanal, à qual se dedicam 600 mil pessoas, 17% da população ativa do Senegal.

A eurodeputada Lövin explicou que a Europa exporta 76% do pescado que consome por meio dos acordos de pesca e à contribuição das empresas mistas baseadas no estrangeiro, e convidou aos países africanos a tirar o maior potencial do setor.

A chamada "diáspora africana" é um tema central do 11º Fórum Social Mundial, realizado na Universidade de Dacar que fala sobre a energia e a juventude da população senegalesa, onde os menores de 20 anos constituem 50%.

O fórum produziu a Carta Mundial dos Migrantes, na qual constam denúncias das políticas injustas, que "em detrimento dos direitos universais reconhecidos para cada pessoa, geram confrontos entre os seres humanos", por isso que pedem liberdade de circulação e residência, os direitos econômicos e a abolição de leis discriminatórias.

No mosaico de participantes de todas as partes do mundo e variedade de temas há oficinas e conferências sobre a crise mundial, as lacunas no sistema legal e econômico, que "permite os criminosos se infiltrarem", conforme a organização europeia Flare, que pede a identificação aos responsáveis e que definam as ações contra eles.

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