terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Vereador cassado: "O risco é vir um regime de exceção"


vereador Marco Aurélio Cunha do DEM

Eliano Jorge

No Terra Magazine

Um dos oito vereadores paulistanos cassados junto com o prefeito Gilberto Kassab pela Justiça Eleitoral, Marco Aurélio Cunha, do Democratas, evoca ameaças à democracia em suas críticas ao processo.

- O grande perigo disso é fragilizar a instituição democrática. Porque, numa eleição de milhões de votos, em que milhões foram às urnas, vem uma pessoa, um promotor, e descaracteriza tudo o que foi feito, por uma opinião pessoal. As nossas instituições democráticas são muito fracas. E esse é o risco de vir um regime de exceção por um sujeito que pensa dessa forma - declarou a Terra Magazine.

Cunha rebate os argumentos que põem em risco seu mandato, discordando dos critérios para condenação dos cálculos de doações ilegais de campanha.

Também superintendente do São Paulo Futebol Clube e médico com passagens por Santos e Bragantino, ele dá a entender que acredita em motivação política na ação do promotor eleitoral Maurício Lopes.

Dos 11 petistas da Câmara de São Paulo, cinco foram alvo da medida. "O pessoal do PT também está muito estarrecido com isso, e eu sou solidário a ele. Agora, no maior, atinge quem? O prefeito da cidade", frisa Marco Aurélio Cunha, correligionário de Kassab.

No seu entendimento, o processo prejudica mesmo a parceria DEM-PSDB, que administra São Paulo e sua capital. "Atingiu a maioria dos votos da situação, do poder do Estado de São Paulo - Serra e Kassab. Levou alguns com isso, mas a grande maioria está dentro do sistema de governo paulista. Isso é preocupante", interpreta.

Leia a entrevista.

Terra Magazine - Depois da suspensão da cassação e com mais calma, como o senhor analisa essa situação?
Marco Aurélio Cunha - Da mesma forma como analisei desde o início. Acho que é uma proposta equivocada do promotor que está induzindo o juiz a uma interpretação errada. Até porque porcentuais nunca são corretos quando você aplica isso de forma científica. Eu gastei R$ 286 mil na minha campanha, que é um valor bastante baixo perante as campanhas para vereador em São Paulo. E consegui eleição. Nesse valor, não entram verbas divididas entre todos do partido, propaganda comunitária entre todos os vereadores. Eu gastei realmente R$ 230 mil, uma coisa assim. O restante é verba estimada, de custo operacional.
O que a ideia do promotor induz? Que eu tivesse que gastar mais. Porque se eu recebi da SA Paulista Engenharia e falei "Isso me basta" e vou com mais um pouquinho, R$ 25 mil do meu bolso, consegui um apoio com outro amigo através de pequenas empresas, e somei lá R$ 230 mil. Este valor pra mim - eu que sou um cara austero e não teria por que fazer uma campanha rica, não achava necessária - basta, vou lá com este volume de doações, realizo uma campanha e sou o 19º mais votado em primeira eleição, sendo votado em todas as zonas eleitorais de São Paulo, o que mostra que sou uma pessoa confiável. Então, ele me diz que tenho 52% de verba de uma empresa que seria sócia-acionista de uma rodovia no Estado - que não é o município! Ou seja, se eu tivesse gasto R$ 1,5 milhão na minha campanha, este dinheiro seria legítimo. Que história é essa? Aí ele diz que mais que 20% interfere no processo eleitoral. O que tem mais interferência: eu ter uma relação com um doador ou com 10? O que interfere mais no eleitor: 1,5 milhão de gastos ou 280 (mil reais)?

O senhor acha que isso trouxe prejuízos à sua imagem e à sua carreira política?
Não traz prejuízo porque eu me banco bem. O que eu sou todos sabem. Tenho 55 anos e 31 de carreira de médico, de esporte, então tenho uma história muito bem sedimentada. Mas, para aquele eleitor que não tem conhecimento maior, que votou em mim por admiração e tal, claro que repercute de uma forma estranha. E isso desgasta, sim. Agora, de qualquer forma, eu reverto isso com minha própria exposição pessoal, explicando, como estou explicando para você. Mas o grande perigo disso é fragilizar a instituição democrática. Porque, numa eleição de milhões de votos, em que milhões foram às urnas, vem uma pessoa, um promotor, e descaracteriza tudo o que foi feito, por uma opinião pessoal. As nossas instituições democráticas são muito fracas. E esse é o risco de vir um regime de exceção por um sujeito que pensa dessa forma.

O senhor acha que há esse risco?
Ué, se um sujeito desmonta uma eleição de prefeito, de vice-prefeito, de presidente da Câmara e 22 - eu não sei quantos - vereadores, por uma opinião dele, eu acho que a instituição democrática é muito falível.

Existe alguma motivação eleitoral ou partidária neste caso?
Eu não posso provar isso. Mas que é estranho, é.

Mas de que forma? Porque tem o DEM, porém, uma maioria petista...
Se você fizer uma depuração... O pessoal do PT também está muito estarrecido com isso, e eu sou solidário a ele. Agora, no maior, atinge quem? O prefeito da cidade. Que recebeu quantos milhões de votos? Essa é a questão. Tem questão numérica. Quantos votaram no prefeito e estão atingidos por esta medida, com a desclassificação eventual. Até porque não é moral, mas as pessoas hoje confundem muito, com a medida técnica que ele (o promotor) criou, uma conta de 20% que não sei onde ele inventou -, e atingiu a maioria dos votos da situação, do poder do Estado de São Paulo - Serra e Kassab. Levou alguns com isso, mas a grande maioria está dentro do sistema de governo paulista. Isso é preocupante.

Com o escândalo no Distrito Federal...
Isso é pego de uma forma a juntar as coisas que estão absolutamente divergentes. O eleitor menos esclarecido junta os dois (casos) sem perceber que lá é uma crise de corrupção e aqui é uma análise técnica do que o promotor não gostou ou não entendeu e o juiz, talvez iludido, tenha seguido. É bem diferente de uma questão moral, é uma questão técnica.

O que o Democratas precisará fazer para se mostrar forte neste ano eleitoral, depois dos desgastes em Brasília e agora em São Paulo?
Este desgaste, para mim, é provocado. Não foi o partido que provocou. É provocado. Quando você é provocado, tem que reagir, mostrar claramente aquilo que é a verdade. O de lá, não. O de lá foi constituído. É completamente diferente. Cabe a nós competentemente mostrar isso e, dentro do nosso trabalho, no dia a dia, mostrar quem somos, cada um ser responsável pelo seu mandato de uma forma austera, digna e as pessoas enxergarem isso ao longo dos anos. Temos (prefeito e vereadores) mais três anos para mostrar isso.

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