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sábado, 19 de junho de 2010

Governo já prevê alta do PIB acima de 6,5%

Estimativa foi revista na semana passada, mas equipe econômica deve anunciar nova revisão no fim de julho; economistas já trabalham extraoficialmente com 7%


Fabio Graner / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

A equipe econômica deve anunciar em julho uma nova revisão para cima na projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2010. Apesar de ter revisado a estimativa do PIB deste ano para 6,5% na semana passada, os técnicos já consideram nos bastidores que essa projeção está defasada.

A tendência, segundo fontes do governo, é que a previsão para 2010 seja elevada no relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas que será divulgado no fim de julho. Não há ainda um novo número fechado, pois a área econômica quer esperar novos dados da economia. Mas alguns economistas do governo já trabalham extraoficialmente com crescimento de pelo menos 7% este ano, como em média já preveem os analistas do mercado financeiro.

De acordo com uma das fontes, o crescimento de 2,7% no primeiro trimestre, junto com a forte expansão do quarto trimestre do ano passado, já garante um crescimento de 6% neste ano. É o que no economês se chama de "carry over", ou carregamento estatístico, o que significa que, mesmo que o País não crescesse mais nos próximos trimestres, o PIB do ano teria um resultado de 6% porque sai de um nível elevado no início do ano. Como a economia ainda se mostra em expansão, um crescimento acima dos 6,5% oficialmente previsto se torna bastante factível.

Uma fonte lembra que, se a economia crescer 7,5% em 2010, como alguns analistas no mercado apostam, a média de expansão do País no segundo mandato do governo Lula seria em torno de 4,7%, próximo dos 4,9% previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Apesar de admitirem um crescimento maior para o Brasil este ano, os técnicos da área econômica, em geral, refutam a tese de "superaquecimento" da atividade, que traria riscos de descontrole inflacionário. A avaliação é que uma expansão forte neste ano deve ser relativizada pelo fato de ocorrer em comparação com um ano sem crescimento, afetado pela crise internacional. O raciocínio é que, se a economia crescer 7% ou 8% este ano, a média de 2009 e 2010 será de 3,5% a 4%, patamar que ainda seria abaixo do potencial do Brasil.

Desagrado. O Banco Central encampou a tese do "superaquecimento" e vem elevando agressivamente os juros básicos da economia. A postura dura do BC vem desagradando ao Ministério da Fazenda nos bastidores, apesar de o ministro Guido Mantega evitar polêmicas com a autoridade monetária. O temor da Fazenda é que, ao forçar demais a mão na taxa de juros, o BC desestimule o ímpeto de investimento que tomou conta do empresariado nacional e ficou evidenciado no PIB do primeiro trimestre do ano, quando a taxa de investimento saltou para 18% do PIB.

Mantega já avaliou que a partir do segundo trimestre as taxas de crescimento do País devem se desacelerar, refletindo a retirada da maior parte dos estímulos fiscais e a reversão da política monetária (alta dos juros e dos depósitos compulsórios).

Essa desaceleração deve trazer a economia para um nível de crescimento anualizado de 5,5%, considerado hoje pelos técnicos do governo como o nível sustentável no longo prazo e consta da fase 2 do PAC 2, que vai até 2014.

Como não quer ver os juros subirem muito, uma das estratégias do Ministério da Fazenda tem sido trabalhar com expectativas mais moderadas de crescimento que o mercado e o BC, refutando a tese do sobreaquecimento do País. Além da questão política, que é rebater a ideia de excessivo crescimento, uma das consequências práticas dessa postura do governo é uma projeção mais conservadora de receitas do Tesouro Nacional. Com isso, o governo tenta conter as pressões por aumento de despesas que vêm do Congresso, especialmente neste ano eleitoral.



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