quarta-feira, 2 de junho de 2010

Incidente põe Washington na defensiva

Bastidores: Patrícia Campos Mello - O Estado de S.Paulo

Quando a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, marcou um encontro privado com o chanceler turco, Ahmet Davutoglu, em Washington, ela tinha um assunto em mente: sanções contra o Irã. Mas, nas mais de duas horas de reunião que os dois tiveram ontem de manhã, Hillary teve de deixar as prioridades de Washington em segundo plano. O encontro foi "uma discussão profunda" sobre o ataque aos navios de ativistas pró-palestinos, cheios de cidadãos turcos, e o descontentamento de Davutoglu com a reação tímida dos EUA. Israel atropelou a agenda americana para a aprovação de sanções contra o Irã. E o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, deve estar comemorando.

Para muitos analistas em Washington, o incidente envolvendo Israel tira o Irã do centro das discussões. Na segunda-feira, a revelação da Agência Internacional de Energia Atômica de que Teerã pode ter acumulado urânio suficiente para fazer duas bombas atômicas poderia ter sido preciosa munição para os EUA em sua busca por sanções. Mas o anúncio foi ofuscado pelas vítimas da ação militar de Israel.

O ataque também prejudica a posição negociadora dos EUA na ONU. Washington vê arranhada sua legitimidade de negociador na medida em que dá munição aos críticos que acusam os EUA de terem dois pesos e duas medidas - uma para o Irã e outra para Israel.

Daniel Drezner, influente analista de política externa, chegou a comparar as declarações anódinas dos EUA sobre Israel à pseudocondenação que a China fez ao ataque da Coreia do Norte ao navio da Coreia do Sul. "O governo Obama reagiu a esse incidente de forma notavelmente semelhante à reação da China, que pediu mais informações sobre o incidente com o Cheonan."

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