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domingo, 20 de junho de 2010

Pré-sal provoca boom de cursos de petróleo

Nos últimos dois anos, foram criados cerca de cem novos cursos superiores voltados à área


Glauber Gonçalves / RIO - O Estado de S.Paulo

Com as perspectivas de aumento da produção de petróleo no País, após as descobertas do pré-sal, cursos voltados para a formação de mão de obra para o setor proliferaram. Nos últimos dois anos, cerca de cem novos cursos superiores voltados à área foram criados no País, segundo o Ministério da Educação. São Paulo concentra a maior parte deles, seguido pelo Rio. Mas também há oportunidades em Estados como Espírito Santo, Amazonas e Bahia.

A maior parte dos cursos é para a formação de tecnólogos. São cursos de menor duração do que uma graduação tradicional, voltados exclusivamente ao mercado de trabalho. Mas, com esta formação, os profissionais ainda não são aceitos nas inscrições para vagas de nível superior em concursos da Petrobrás.

Atraído pelas perspectivas de crescimento do setor, o motorista Anderson de Oliveira Azevedo começou no segundo semestre do ano passado o curso superior de Tecnologia em Petróleo e Gás da Universidade Gama Filho, no Rio. "Analisei a situação tendo em vista a minha idade. Estou com 36 anos e não posso errar nas minhas escolhas daqui para a frente. Então optei por uma área segura", diz. Ele fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e garantiu uma bolsa.

As restrições da Petrobrás a tecnólogos não impediram Anderson de entrar na estatal. Graças a um curso técnico em segurança do trabalho que fez anteriormente, ele se inscreveu em um concurso, foi aprovado e aguarda ser chamado. Com a conclusão do curso superior, porém, ele diz que não hesitará em trocar a estatal por um salário mais alto em uma multinacional. "Tenho um amigo que trabalha em uma terceirizada e já está ganhando R$ 6 mil", conta.

Treinamentos. A grande procura por profissionais, especialmente por parte de multinacionais, também tem impulsionado a expansão de treinamentos e cursos livres. Com dificuldades para atender à demanda crescente, Samuel Pinheiro, diretor da Petrocenter, empresa que oferece cursos de capacitação voltados para o setor, teve de expandir a empresa. "Chegou a um ponto em que não tínhamos mais capacidade de atender a demanda", diz.

O franchising foi o meio de expansão encontrado pela empresa, que atende hoje 330 alunos, a maior parte pertencente às classes C e D e com idades entre 16 e 24 anos. "Para acompanhar as necessidades do mercado, não tivemos escolha, nos vimos obrigados a optar pelo franchising. Os ganhos que teremos serão menores, mas conseguiremos atender a demanda", diz Samuel.

A Petrocenter planeja encerrar o ano com uma rede de dez franqueados. A estratégia é começar a expansão pelo Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. "Já estou com oito contratos de franquia para serem assinados no Rio", conta Samuel.

De acordo com o empresário, que já recebeu propostas para vender a escola, também há candidatos interessados em se tornar franqueados nas cidades paulistas de São Carlos, São Bernardo do Campo e Campinas.

Especializada em treinamentos de segurança para o setor de petróleo e gás, a Sampling Planejamentos, localizada em Macaé, no norte fluminense, também está se expandindo. Os treinamentos, antes requisitados principalmente por empresas, agora são procurados diretamente por profissionais em busca de capacitação, explica a diretora Roberta Pierri. "Em 2001, 7% do faturamento era proveniente de clientes autônomos. Hoje, os autônomos já respondem por 40%."

A empresa, que nos últimos dois anos inaugurou unidades em Vitória (ES) e em Duque de Caxias, na baixada fluminense, agora se prepara pra abrir turmas em Itaboraí, na região Metropolitana do Rio, visando atender à demanda que será criada pelo Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Previsto para entrar em operação em 2013 - depois de sofrer dois adiamentos no prazo de conclusão das obras -, o empreendimento da Petrobrás, com investimentos previstos em cerca de US$ 8,5 bilhões, está passando por uma revisão orçamentária.

Segundo Roberta Pierri, a Sampling treina hoje uma média mensal de 1,5 mil pessoas. "São pessoas de baixa escolaridade. Muitos trabalham como cozinheiros ou na hotelaria e estão em busca de uma melhor remuneração. Para atender esse público, a empresa flexibilizou as formas de pagamento. "Passamos a aceitar cartões de crédito e estamos viabilizando a parceria com uma financeira para oferecer parcelamento em um prazo maior".

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