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sábado, 24 de julho de 2010

Ruptura com Venezuela marca fim do mandato de Uribe


Segundo analistas, novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, terá que 'recomeçar do zero'.

Ao acusar a Venezuela de abrigar guerrilheiros colombianos apenas 15 dias antes de deixar o poder, o presidente da Colômbia Álvaro Uribe se despede do cargo no tom conflitivo que marcou sua relação política com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e dificulta a reaproximação de seu sucessor, Juan Manuel Santos, com o país vizinho, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.

Para o historiador e analista político Jorge Orlando Melo, ao fazer a denúncia na Organização dos Estados Americanos (OEA), Uribe quis marcar uma posição firme no combate às guerrilhas antes de deixar o poder e enviou uma mensagem clara ao seu herdeiro político.

"Para Uribe interessa que Santos defenda sua herança em relação à política de Segurança de seu governo, de tolerância zero à guerrilha", afirmou Melo.

Segundo Jorge Melo, Uribe decidiu enfrentar Chávez pela última vez, "temendo que o novo governo deixasse de pressionar a Venezuela da maneira como ele estava fazendo em relação à vigilância contra as Farc. Essa é uma obsessão central de Uribe", afirmou Melo.

Segundo o analista político, Uribe tende a não confiar na capacidade dos países com os quais compartilha a fronteira, como Equador e Venezuela, de conter a penetração de grupos guerrilheiros.

Isso pôde ser visto em março de 2008, quando o governo colombiano optou por arcar com o custo político da invasão militar no Equador para bombardear um acampamento das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) instalado próximo à fronteira com a Colômbia.

"Mas se o governo colombiano não tem condições de controlar a guerrilha do lado de cá da fronteira, como Chávez poderá?", acrescentou Melo.

Nesta sexta-feira, o chanceler da Colômbia, Jaime Bermudez, disse que o diálogo com a Venezuela em relação à cooperação contra os grupos armados foi "infrutífero".

"Que fique claro, o que queremos é um mecanismo específico para que se resolva o problema de fundo e exista cooperação eficaz na luta contra o terrorismo, para desmantelar esses grupos", afirmou Bermúdez, horas depois da Unasul ter anunciado a mediação para a crise bilateral.

Ruptura

Para o analista internacional venezuelano, Carlos Romero, Uribe quis "frustrar" as possibilidades de reaproximação imediata de Santos e Chávez e "terminar de acabar a relação tão dramática que vinha tendo com o presidente Chávez desde 2004", afirmou.

Para Romero, Uribe colocou Chávez contra a parede, levando à ruptura. " A OEA não era o lugar apropriado para discutir esse tema, nem o momento apropriado para isso", afirmou, ao acrescentar. "Chávez não teve outro remédio senão romper", afirmou.

Para o analista político Alejo Vargas, professor de ciências políticas da Universidade Nacional da Colômbia, o aspecto positivo da crise é que Santos poderá "começar do zero" a relação com a Venezuela, "sobre bases mais transparentes".

A seu ver, haverá uma reaproximação entre Caracas e Bogotá quando Santos assumir o governo. A preocupação colombiana sobre a suposta presença de guerrilheiros na Venezuela deve pautar o reencontro.

"O importante é que tenham um diálogo reservado e terminem com a diplomacia de microfones, de que tanto gostavam Uribe e Chávez", afirmou Vargas.

O analista colombiano Álvaro Jimenez é menos otimista. A seu ver, será "muito difícil" uma rápida solução para a crise entre Caracas e Bogotá. "Santos não pode virar a página somente assumindo o mandato", afirmou. "Uribe deixa um conflito interno difícil, de ter convertido Chávez e a Venezuela no porta-estandarte das Farc", afirmou.

"Há tensão e um risco latente de conflito. Não há clima favorável à distensão", acrescentou.

A possibilidade de que a ação na OEA foi uma medida concertada entre os aliados políticos Uribe e Santos, divide a opinião de analistas.

"Foi uma decisão do Uribe. Santos sabia que ele seria o maior prejudicado", afirmou o analista venezuelano Carlos Romero.

O colombiano Álvaro Jimenez discorda. "Não acredito que Santos foi pego de surpresa".

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