Há uma expressão (chula) na política que os veteranos usam para definir o novato afoito prestes tropeçar nas próprias pernas. Diz assim: "Para cachorro novo, fulano está com muita pressa de entrar no mato."
É o que a memória de imediato seleciona diante da resposta da candidata Dilma Rousseff ao convite do senador Álvaro Dias para falar no Congresso sobre as andanças da ex-ministra Erenice Guerra, a respeito de quem a cada dia se descobre uma nova malfeitoria.
"Convite de Álvaro Dias, nem para cafezinho", disse ela. Se, como pareceu, está preocupada com o efeito eleitoral desse tipo de solicitação, Dilma teria várias maneiras de recusá-lo. Poderia, inclusive, ignorar a declaração do senador, dizer que esperaria a solicitação formal do Legislativo para então se pronunciar.
Mas, não. Dilma preferiu dizer o que lhe veio à cabeça e da forma mais arrogante, esquecida de como foi duro aquele curto período do início da campanha quando, na ausência do presidente Luiz Inácio da Silva, que andava pelo exterior, ela cometia uma impropriedade (às vezes até duas) por dia.
Por menor que fosse, era registrada como erro, comentada com constrangimento pelos aliados e celebrada pelos adversários.
A candidata já deve ter percebido, mas pelo jeito não compreendeu: determinadas barbaridades, manifestações de desrespeito e infrações só podem ser feitas ou ditas por Lula.
É o único com salvo-conduto para cometer disparates impunemente. Ou Dilma acha que teria ido longe se o presidente não reaparecesse logo transformando, em maio, o programa do PT em horário eleitoral? Ou pensa que desperta os mesmos sentimentos de gratidão, culpa ou intimidação?
Erenice Guerra cometeu o mesmo erro de que poderia ser arrogante numa nota oficial e perdeu o lugar.
Se de fato for eleita, é bom Dilma se acostumar: não sendo a operária nordestina que chegou à Presidência nem tendo o poder de controlar a massa, não poderá contar com a prerrogativa de desrespeitar a tudo e a todos impunemente, que é de uso exclusivo de Lula presidente.
Isso vale também para a modelagem "não sei de nada" em relação a escândalos de corrupção.
Currículo escolar. Lula disse na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) no fim da semana passada que "adoraria" ter curso superior e gostaria de voltar a estudar.
O que poderia parecer um tardio, mas bem-vindo, reconhecimento do presidente do valor do estudo era só um jeito de poder dizer que se considera pronto a "dar aulas sobre como governar o País".
Em outras palavras: falar todos os dias para registro dos meios de comunicação; dizer o que cada público gosta de ouvir sem compromisso com a coerência ou realidade; não enfrentar contenciosos; agradar malfeitores que poderiam ameaçá-lo; distribuir benesses sem pensar nas consequências; passar por cima de tudo, inclusive da lei; aniquilar o que ou quem lhe possa fazer sombra, nunca valorizar atributos que não sejam os próprios e jamais firmar pacto eterno com a verdade.
Vivendo e aprendendo. Em 1989 Fernando Collor foi eleito presidente praticamente sem críticas. Da imprensa, inclusive, que em sua maioria deslumbrava-se deixando em segundo plano seus atos como prefeito de Maceió e governador de Alagoas.
Na época havia o receio geral de criticar Collor e receber do burríssimo maniqueísmo nacional o carimbo de "sarneysista". Praticamente um insulto, dada a impopularidade do então presidente José Sarney.
Fato e ficção. A crucial e aterradora diferença entre o Tiririca de hoje e o cacareco de antigamente é que o voto neste não valia e os votos naquele valerão várias vagas na Câmara dos Deputados.
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