terça-feira, 7 de junho de 2011

Saída de Palocci não encerra crise, e futuro de Gleise não é muito promissor, diz Romano


Fabiana Uchinaka
Do UOL Notícias 

A saída do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, do governo não encerra a crise no governo de Dilma Rousseff, ressaltou o cientista político Roberto Romano, professor de Ética da Unicamp em entrevista ao UOL Notícias. “Não vai ficar tudo bem. A casa fica desarrumada. Vai ser preciso muita coordenação e muita lucidez para reverter isso”, disse ele.
O ministro entregou na noite desta terça-feira (8) sua carta de demissão à presidente, após ver sua imagem desgastada por mais um escândalo, desta vez por suspeita de enriquecimento ilícito e tráfico de influência. No lugar dele, entra a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
“A demissão do Palocci não encerra o problema. Em menos de seis meses de governo, Dilma enfrenta mais uma grande derrota no Congresso. Depois do Código Florestal, agora a presidente perdeu seu principal articulador. Vai demorar pelo menos mais seis meses para ela recuperar a sua relação com a base aliada, que provocou todas essas derrotas”, disse.
Na votação do Código Florestal, em maio, a base aliada, especialmente o PMDB, contrariou determinação do governo e votou a favor da Emenda 164, do deputado Paulo Piau (PMDB-MG), que anistia agricultores que desmataram em área de preservação permanente (APP).
Segundo Romano, apesar dos seguidos escândalos em torno do ministro, o “problema do governo não é Palocci, mas a pasta”. Em 2006, o petista já havia deixado o governo por conta de acusações de tráfico de influência e de ter ordenado o vazamento do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, que o acusou de frequentar a “mansão do lobby” em Brasília.
“O problema é a Casa Civil. Os escândalos na pasta começaram no governo Itamar [Franco]. Depois veio o [José] Dirceu, a Erenice [Guerra] e agora o Palocci. É um ponto nefrálgico do governo, que faz a ligação de tudo, do governo com a sociedade. Tudo passa pelo filtro da Casa Civil. E, como não se pode atender a todos, isso gera inimizade e ressentimento”, analisou o cientista político.
Em 1993, no governo Itamar Franco, o ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves, foi foi citado no esquema dos anões do orçamento e investigado em CPI, o que fez ele se afastar do cargo. Em 2005, foi a vez do então ministro-chefe da pasta, José Dirceu, pedir demissão do governo Lula em meio à crise política provocada por denúncias de corrupção nos Correios e envolvimento no “mensalão”, esquema que de pagamento de mesada a parlamentares em troca de apoio político. No ano passado, Erenice Guerra, considerada o braço direito de Dilma e sua substituta na Casa Civil durante o governo Lula, renunciou após ser apontada como criadora de um dossiê contra políticos do PSDB.
“No governo Lula, Palocci cumpria uma função importante no Ministério da Fazenda de articular a passagem do governo do Fernando Henrique Cardoso para o governo Lula. Com Dilma, ele ganhou uma função perigosa. E o futuro da Gleisi também não é muito promissor”, afirmou Romano.
Para o professor, enquanto não houver um amadurecimento do Congresso e uma limitação da hegemonia da Casa Civil, os escândalos e, consequentemente, as quedas dos ministros continuarão acontecendo.

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