segunda-feira, 3 de maio de 2010

Ex-mulher de Bertin quer até Belo Monte

Maria Ivone briga na Justiça por metade dos bens de Reinaldo Bertin, sócio da usina


David Friedlander - O Estado de S.Paulo

Dona de um dos maiores grupos empresariais do País, a família Bertin apareceu associada a alguns dos negócios mais badalados dos últimos tempos: virou sócia do JBS Friboi, a maior empresa de carnes do mundo, liderou o consórcio vencedor do leilão da Hidrelétrica de Belo Monte e vai disputar a concessão do trem-bala entre Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas. Agora, o lado amargo da notoriedade. A ex-mulher de Reinaldo Bertin, um dos controladores do grupo, acaba de entrar na Justiça para pleitear metade do patrimônio do empresário.

O processo movido por Maria Ivone Prado Bertin tem pouco mais de uma semana, mas já está agitando o pequeno Fórum de Lins (SP), onde os dois ainda moram. A ação de divórcio, com pedido de pensão alimentícia, partilha de bens e indenização por danos morais, teve início no dia 23, uma sexta-feira. Na quinta, 29, depois que Reinaldo foi citado pela Justiça, veio o troco e os advogados do empresário ajuizaram uma outra ação, para pedir que Maria Ivone seja interditada - uma providência jurídica adotada quando a pessoa se mostra incapaz de responder por seus atos.

Reinaldo é um dos donos e vice-presidente do conselho de administração de um grupo que faturou R$ 9,5 bilhões no ano passado, controla dezenas de empresas e tem negócios em açúcar e álcool, alimentos e energia. Mas o processo que o envolve vai além do Bertin, porque pode conturbar a vida de um sócio importante de Belo Monte, a terceira maior hidrelétrica do mundo.

"É bom que o Reinaldo tenha sido vencedor de Belo Monte, porque minha cliente tem direito à metade de tudo que ele tiver lá", afirma Wilson Constantinov Martins, advogado de Maria Ivone. Maior acionista privado do consórcio de empresas que venceu o leilão, o Bertin tem quase 14% da hidrelétrica. Procurado, o grupo não quis se pronunciar.

A ação de divórcio está na 3.ª Vara de Família de Lins e o pedido de interdição, na 2.ª. Os dois processos correm em segredo de Justiça, mas o Estado teve acesso a algumas informações sobre o caso.

Os advogados de Maria Ivone pediram uma pensão alimentícia de R$ 200 mil por mês para sua cliente, mas o juiz Antônio Fernando Bittencourt Leão, da 3ª. Vara, fixou o valor em cerca de R$ 30 mil. E o pedido de interdição já teria sido aceito, em caráter provisório, pelo juiz Antônio Apparecido Barbi, da 2.ª Vara. Procurados, os dois magistrados se negaram a comentar as informações, em razão do segredo de Justiça.

Maria Ivone e Reinaldo foram casados por mais de 30 anos, tiveram quatro filhos e há oito anos deixaram de viver juntos. Segundo o advogado de Maria Ivone, contratado há cerca de 20 dias, sua cliente já havia tentado antes uma separação judicial, mas teria sido pressionada a voltar atrás pelos filhos e pelo ex-marido. Ela teria decidido tentar de novo incentivada por um grupo de amigos da igreja que frequenta, entre eles o empresário Luiz Carlos dos Santos, a quem deu procuração para representar seus interesses.

O advogado de Maria Ivone diz que sua cliente não tem noção do patrimônio do ex-marido. "Ela cuidava dos filhos, não sabia nada", afirma Martins. "Por isso, vou pedir uma perícia patrimonial nas empresas do grupo e naquelas em que ele for sócio." Entre os sócios do Bertin, está o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Dúvidas. O grupo Bertin ganhou destaque recentemente ao aparecer como um dos líderes do consórcio montado pelo governo para disputar o leilão de Belo Monte. Formado pela estatal federal Chesf e por um punhado de empresas com pouca experiência em empreendimentos desse porte, o grupo venceu a disputa. Desde então, surgiram dúvidas em relação à capacidade financeira do Bertin para participar do projeto.

Cerca de dois anos atrás, o grupo participou de dois leilões para construção de usinas termoelétricas. No momento de fazer o depósito das garantias exigido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), nos valores de R$ 370 milhões e R$ 196 milhões, o consórcio do qual o Bertin participava perdeu o prazo. O consórcio pediu a prorrogação dos prazos, alegando que a crise financeira mundial prejudicara as negociações com as instituições bancárias.

A Aneel não aceitou o pedido e executou as garantias, em valor superior a R$ 20 milhões. Mas, segundo fontes do setor, o grupo não aceita pagar esse montante e teria acionado advogados para contestar a decisão. O resultado foi o atraso na construção das usinas, o que pode provocar novas punições pela Aneel.


No holofote

Em setembro do ano passado, o frigorífico Bertin ganhou destaque ao se associar ao JBS Friboi, formando a maior empresa processadora de carnes do mundo. A família Bertin ficou com 40% do negócio.

No dia 20 de abril, o grupo Bertin liderou o consórcio de empresas que venceu o leilão da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA). Por meio de duas empresas, o Bertin tem quase 14% do empreendimento.

O grupo se prepara para entrar em outra disputa de peso e deve ser um dos principais sócios brasileiros do consórcio coreano KTX, que vai disputar a concessão do trem-bala entre Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas.

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