quarta-feira, 20 de abril de 2011

Editoriais = Folha de S. Paulo - Sinal de alerta


Ameaça de rebaixamento da avaliação da dívida dos EUA lança mercados mundiais em desarranjo; ajuste não poderá ser adiado indefinidamente

A agência de classificação de riscos Standard & Poor's abalou mercados pelo mundo ao colocar a nota de crédito dos EUA -o AAA máximo na escala de classificação- em inédita "perspectiva negativa". Isso sinaliza a possibilidade de rebaixamento efetivo da nota no prazo de seis meses a dois anos, caso não sejam tomadas medidas fiscais corretivas.
De fato, a trajetória de endividamento americano é preocupante. Neste ano, o deficit público pode atingir 11% do PIB. A agência estima que a dívida poderá superar 90% do PIB (nível por muitos considerado ameaçador para a solvência de longo prazo) até 2016.
O relatório da S&P, ressalte-se, nada trouxe de novo. O mercado financeiro já trabalha com expectativas ainda piores, sem que isso tenha abalado a singular posição dos EUA como emissores da moeda de reserva global, que funciona como refúgio do dinheiro do mundo em situações de incerteza.
Prova disso é que, após o anúncio, as bolsas caíram ao mesmo tempo em que o dólar se fortalecia e as taxas de juros americanas recuavam. Isto é, os investidores buscavam segurança comprando os ativos que a agência acabara de avaliar como menos seguros.
Em qualquer outro país, a moeda teria sofrido desvalorização, e os investidores teriam fugido em massa. Tal privilégio vem permitindo até agora aos Estados Unidos atrasar seu ajuste, mas ele não poderá ser adiado por muito tempo. Nesse sentido, o alerta configura uma boa notícia.
O sinal tem grande impacto político. A S&P deixa claro que tomou a decisão em razão da perceptível dificuldade de democratas e republicanos em chegar a um acordo sensato para estabilizar a dívida no médio prazo dos EUA (entre 2013 e 2016).
Os embates nas últimas semanas, quando os dois partidos chegaram perto de provocar a interrupção de serviços essenciais do governo, tornaram patente o quão distante ainda parece estar um acordo estável. Nas próximas semanas, o limite de endividamento do governo será alcançado e precisará ser estendido pelo Congresso.
De um lado, os republicanos perseguem sua agenda de diminuição do Estado e propõem cortes de impostos para os mais ricos, ao passo que os democratas preferem o oposto. Há pouco apetite para cortes dramáticos nas despesas de saúde, que são o principal fator de desequilíbrio orçamentário no longo prazo.
Não há acordo à vista, portanto. Por outro lado, a Europa continental já entrou em fase de ajuste, assim como o Reino Unido. Nem mesmo os EUA poderão abusar de seu privilégio para sempre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário