O Estado de S.Paulo
A rápida recuperação da economia brasileira em 2010, após ser atingida pela primeira onda de impacto da crise global, estimulou as empresas transnacionais a investir mais no País, o que lhe assegurou a melhora da posição no ranking dos que mais recebem investimentos produtivos estrangeiros. Mas, agora, sua baixa resistência às consequências persistentes dos problemas econômicos mundiais, agravados pelo aprofundamento da crise europeia e pelos sinais de desaceleração da economia chinesa, está tornando os investidores mais cautelosos. Ao aumento da participação do Brasil na absorção dos investimentos externos na produção, observado nos últimos três anos, deve-se seguir um período de declínio.
"A longo prazo, o Brasil começa a perder um pouco o brilho como destino dos investimentos estrangeiros", observou o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Lima, responsável pela divulgação no Brasil do relatório da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) sobre o destino dos investimentos diretos estrangeiros (IDE).
A crise global iniciada em 2008 afetou fortemente os fluxos de investimentos diretos estrangeiros. Já no ano inicial da crise, o volume total de investimentos sofreu uma queda de 9,4% em relação ao resultado ano anterior. A queda se acentuou em 2009, quando o fluxo global foi 33% menor do que o de 2008 e praticamente 40% menor do que o de antes do início da crise. O fluxo voltou a aumentar, mas a uma velocidade menor do que a observada na queda, por isso, o resultado de 2011 (fluxo global de US$ 1,52 trilhão) ainda é 23% menor do que o de 2007 (US$ 1,98 trilhão).
O volume de IDE recebido pelo Brasil nesse período teve oscilações mais acentuadas. Entre 2008 e 2009, o fluxo para o País diminuiu 42,6%, mas a recuperação foi rápida, com aumento de 87,3% em 2010 e de 37,5% em 2011 (sempre na comparação com o ano anterior). No ano passado, o Brasil recebeu US$ 66,7 bilhões em IDE, valor que o classifica como o quinto principal destino dos investimentos, três posições acima da obtida em 2010. Na frente do Brasil como grandes receptores de IDE estão EUA, China, Bélgica e Hong Kong.
Pesquisas da Unctad com responsáveis pelas decisões sobre investimentos das empresas transnacionais nos próximos três anos indicam que, a despeito dos problemas mundiais e das crescentes incertezas sobre as finanças de alguns países europeus importantes, o fluxo de investimentos externos continuará a crescer nos próximos anos, embora a um ritmo bastante moderado.
Na avaliação da Unctad, a produção das empresas transnacionais continua a crescer, elas mantêm alto nível de emprego (empregavam 69 milhões de pessoas em 2011) e dispõem de um volume recorde de recursos em caixa. São fatores que justificam as projeções de aumento dos investimentos. O aumento seria maior do que o projetado (de 5,2% em 2012, 11,2% em 2013 e 10,7% em 2014) se os dirigentes das empresas estivessem mais confiantes em relação ao futuro.
Pesquisas com esses dirigentes indicam, porém, perda gradual do interesse relativo pelo Brasil e pela América Latina. É provável que os resultados de 2012 já confirmem essas indicações. A Sobeet, por exemplo, estima que, neste ano, o fluxo de IDE para o País deve totalizar cerca de US$ 50 bilhões, um quarto menos do que o de 2011.
A posição do Brasil no ranking dos destinos preferenciais de IDE deverá cair neste ano e continuar caindo até 2014, por causa das previsões de baixo desempenho de sua economia. Por ser, destacadamente, o principal destino de IDE na América Latina, o Brasil afetará o desempenho de toda a região, que deverá perder participação nos fluxos globais de investimentos produtivos nos próximos anos.
Atentos, os responsáveis pelos programas de investimentos internacionais das grandes corporações não parecem acreditar em resultados de longo prazo das muitas medidas anunciadas pelo governo brasileiro para estimular a economia.
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