DANIEL RONCAGLIA
SILVIO NAVARRO
DE SÃO PAULO na Folha.com.br
Três réus foram condenados na noite desta quinta-feira (10) pela morte do prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel (PT), ocorrida em janeiro de 2002.
Ivan Rodrigues da Silva (Monstro) foi condenado a 24 anos de prisão em regime fechado, enquanto José Edison da Silva recebeu a 20 anos e Rodolfo Rodrigo dos Santos (Bozinho), 18 anos de pena. Eles negam participação no assassinato.
A decisão foi tomada em um júri no Fórum de Itapecerica da Serra (Grande São Paulo), que durou mais de nove horas.
Todos os jurados votaram contra os réus nos seis itens do questionário.
Celso Daniel foi encontrado morto, com oito tiros, numa estrada de terra em Juquitiba (SP) após dois dias de sequestro. Na época, ele havia sido escolhido para coordenar a campanha que levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao poder.
É a segunda decisão referente ao caso. Em 2010, Marcos Bispo dos Santos foi condenado a 18 anos de prisão.
Outros dois acusados --Itamar Messias Silva dos Santos e Elcyd Oliveira Brito (John)-- seriam julgados hoje. Os advogados deles, no entanto, abandonaram o júri alegando que teriam menos tempo para apresentar a defesa do que o Ministério Público para sustentar a acusação.
Principal acusado do crime, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, ainda não foi julgado porque sua defesa conseguiu uma série de recursos judiciais. Ele responde em liberdade e questiona no STF (Supremo Tribunal Federal) o poder de investigação do Ministério Público em casos criminais.
BATE-BOCA
Durante o debate, houve um bate boca entre a defesa e acusação. Na sua sustentação oral, o advogado José do Ribamar Baima do Lago Júnior, que defende Bozinho, contestou uso de uma testemunha protegida que relatou à Promotoria ter ouvido diálogo dos réus narrando que mataram o prefeito. "Nem o delegado acreditou [na versão]", disse.
Ele reclamou que a testemunha não foi chamada para depor no júri. "Não sou advogado cadeieiro, não sou advogado vagabundo que passa nome de testemunha para bandido ir lá matar", afirmou Lago Júnior.
"Se o senhor levantar a voz, eu também vou levantar", reagiu o promotor Márcio Augusto Friggi de Carvalho. "O senhor vai seguir na linha de enganar os jurados?"
O advogado reagiu. "Não vou lhe dar aparte, se quiser a réplica, estou aqui", disse, batendo contra no peito.
TORTURA
Em interrogatório, Monstro, José Edison e Bozinho negaram participação no assassinato e disseram ter sido torturados pela polícia.
Os três também acusaram o ex-deputado petista e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, que acompanhou as investigações, de ter colaborado com os policiais durante suposta tortura.
"Os policiais aceitavam tudo o que ele dizia. Ele queria porque queria porque que eu confessasse o crime", disse o réu Rodolfo Rodrigo dos Santos. Ele ainda afirmou que foi agredido fisicamente pelo petista.
Greenhalgh chamou de "inverídicas" as alegações. "Eles [os promotores] são testemunhas de que não houve maus tratos durante os depoimentos que resultaram na confissão dos acusados", disse.
FINANCIAMENTO
A Promotoria voltou a defender hoje que o assassinato está vinculado a um esquema de desvios de verbas da prefeitura para financiar campanhas do PT.
Para o Ministério Público, o grupo foi contratado por Sombra para matar o prefeito, que teria descoberto que parte do dinheiro que deveria abastecer o PT foi desviado pelos envolvidos no esquema de corrupção.
De acordo com o promotor Friggi, provas levantadas pelo Ministério Público mostraram a ligação de Gomes da Silva com Dionísio de Aquino Severo, também acusado pelo crime e morto no presídio em 2002.
"O Sombra precisava de alguém de fora para fazer o serviço sujo", argumentou o promotor.
A Promotoria sustenta que o sigilo telefônico dos réus mostra que o sequestro foi tramado e que testemunhas vincularam Gomes da Silva ao esquema de desvios.
Essa tese, entretanto, vai na contramão das investigações da Polícia Civil de que foi um crime comum. Ontem, os três réus negaram conhecer Gomes da Silva e Severo.
Bruno Daniel, irmão do prefeito e defensor da tese de crime político, e outros parentes acompanharam o júri.
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