da Agência Brasil
São Paulo - Começaram hoje (26) na capital paulista os debates do 9º Encontro Internacional da Marcha Mundial das Mulheres (MMM). Descriminalização do aborto, desemprego e cenário de crise internacional são alguns temas que serão discutidos nesta semana, quando cerca de 1,6 mil participantes, reunidas no Memorial da América Latina, fazem um balanço das ações nos últimos dois anos e traçam novas frentes de lutas para o próximo período. Representantes de 48 países, de todos os continentes, participam do encontro.
"A Marcha consegue ser um movimento feminista internacional que trata de diferentes assuntos, porque a gente acredita que uma análise e uma prática feministas podem oferecer subsídios para todos os temas que afligem a humanidade hoje", explicou a brasileira Miriam Nobre, coordenadora do Secretariado Internacional da MMM.
Nesse sentido, uma das linhas de atuação da MMM nos últimos anos foi “paz e desmilitarização”. No caso das Américas, o movimento visitou Palanquero, na Colômbia, uma das áreas afetadas pelo conflito armado no país.
"É uma base militar que o governo colombiano cedeu para os Estados Unidos. Foi uma forma de reagir também a essa forma de militarismo imperialista", justificou. Miriam Nobre relatou o que a população local chamou de estratégia de enamoramento. "Alguns militares seduziam as mulheres, algumas bem jovens, para que elas prestassem serviços domésticos e atuassem como informantes", explicou.
Na Europa, a MMM atuou na Turquia. "Fizemos um trabalho sobre os conflitos entre Grécia, Turquia e Chipre. Nós vimos que, mesmo com o cenário atual de crise [econômica], com muitos cortes orçamentários, os gastos militares nunca são cortados", disse a coordenadora. As militantes támbém visitaram a República Democrática do Congo. "Estivemos em Muenga, uma região de conflito aberto, onde 14 mulheres foram enterradas vivas em 1998. Elas eram acusadas de feitiçaria", relatou.
Miriam lembra que, ao discutir o tema da desmilitarização, percebeu similaridades entre a situação das mulheres colombianas e brasileiras. "É um tema que, inicialmente, não teria relação com o Brasil, mas quando a gente reflete sobre a situação das favelas do Rio de Janeiro, por exemplo, vemos que as estratégias se repetem", disse.
Para a coordenadora, esse tema demonstra a importância de uma ação integrada das mulheres. "Estamos sempre buscando articular o local, o nacional e o internacional. Não só a ideia de como o nacional repercute no local, mas como as mulheres conseguem construir resistências que inspiram uma ação em outras partes do mundo", apontou.
É a primeira vez que a paraense Josenilda Silva, 32 anos, participa de um encontro internacional da MMM. "O feminismo começou a fazer parte da minha vida bem cedo, quando vi minha mãe sofrer violência do meu pai", relatou. Hoje, ela atua em uma organização não governamental que discute direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. "No Pará, estamos enfrentando muito fortemente a questão da exploração sexual, principalmente pela vinda de grandes obras, como [a da Hidrelétrica de] Belo Monte", apontou.
Os problemas relacionados à crise financeira internacional são os que mais têm afetado a vida das mulheres portuguesas. Pelo menos é assim que pensa a estudante Cassilda Pascoal, 31 anos. "É uma situação diferente dos últimos anos. As mulheres têm sido muito afetadas por essa crise, pelo aumento do desemprego e das diferenças salariais", apontou. Além disso, ela destaca que problemas relacionados à violência contra mulheres persistem no país. "Assédio sexual, violência doméstica, desculpabilização dos agressores, o medo que ainda existe em denunciar são questões que precisamos enfrentar", declarou.
A professora chilena Marisol Verdugo, 24 anos, acredita que a descriminalização do aborto é o principal tema a ser enfrentado pelas mulheres no seu país. "O Chile é um dos cinco países que não têm nenhuma legislação a respeito", apontou. Segundo a professora, estima-se que 200 mil chilenas morrem por ano em decorrência de abortos. "São números informais, porque as mulheres são presas, são denunciadas. A maneira mais segura [de fazer o aborto] é muito cara e as mulheres mais pobres não têm condições de fazê-la", declarou.
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