Por Camila Moreira e Tiago Pariz
SÃO PAULO/BRASÍLIA, 27 Mar (Reuters) - O governo brasileiro emitiu 1 bilhão de euros em um novo bônus nesta quinta-feira e buscou capitalizar o resultado como um sinal de confiança de investidores e de solidez do Brasil justamente na semana em que a agência de risco Standard & Poor's rebaixou o rating soberano do país.
O bônus de sete anos, com vencimento em 1o abril de 2021, saiu a 99,464 por cento do valor de face, cupom de 2,875 por cento e rendimento de 2,961 por cento, informou o Tesouro Nacional após a operação.
A liquidação financeira ocorrerá em 3 de abril e os cupons serão pagos em 1o de abril de cada ano, a partir de 2015, até o vencimento.
O resultado da emissão fez o Tesouro Nacional deixar a porta aberta para novas emissões externas em 2014. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, levantou a possibilidade de a próxima operação ocorrer em iene, acrescentando que o governo ainda mantém a possibilidade de outras captações no exterior em dólar e em euro.
"Vamos avaliar próximas emissões dentro do plano apresentado e poderemos abrir mais um mercado em ienes", afirmou.
A emissão desta quinta ocorreu porque o governo enxergou uma janela de oportunidade, com as recentes quedas nos rendimentos dos títulos da dívida externa, informou à Reuters uma fonte do governo, sob condição de anonimato.
A escolha por um título de sete anos foi definida pela demanda do mercado, após pesquisa feita pelos bancos BB Securities, JPMorgan e Santander, que lideraram a emissão, acrescentou a fonte.
De acordo com um técnico do Ministério da Fazenda, a demanda pelo bônus em euro foi cerca de três vezes o valor vendido e os principais compradores foram fundos de pensão, fundos soberanos, além de seguradoras da Alemanha, Holanda e França. Investidores da China, Hong Kong e Taiwan também compraram os títulos.
RATING
Na segunda-feira, a S&P reduziu a nota do país para "BBB-", a faixa mais baixa da categoria de grau de investimento, com perspectiva estável. A agência citou a deterioração das contas públicas brasileiras como um dos motivos para a decisão.
Augustin buscou desvincular a emissão da decisão da S&P, mas disse que o resultado da captação mostrou que os fundamentos do Brasil são fortes e o que mercado internacional tem grande confiança no país. "A emissão em euros já estava prevista, independentemente da S&P", disse.
Fontes do governo tinham dito à Reuters neste mês, antes do rebaixamento promovido pela S&P, que o Tesouro aguardava a evolução do cenário internacional para decidir sobre nova emissão externa.
O Tesouro estava longe do mercado internacional desde outubro do ano passado, quando vendeu títulos em dólar para janeiro de 2025.
Já em euro, a distância é bem maior. A última vez que o governo captou na moeda única europeia foi em janeiro de 2006, quando foram vendidos 300 milhões de euros com vencimento em fevereiro de 2015.
Além desse título, o Brasil tem outro papel denominado em euro no mercado, com vencimento em junho de 2017. Na quarta-feira, esse papel fechou com rendimento de 1,914 por cento, no menor nível desde 20 de março. Naquela emissão, a taxa foi de 5,448 por cento, 1,85 ponto percentual acima do mid-swap. Na operação desta quinta, a taxa de 2,691 ficou 1,65 ponto percentual acima do mid-swap e é a menor para emissões do Brasil em euro.
Um operador de bônus de banco nacional disse que o resultado não é para tanta "euforia", já que o Brasil tem poucos títulos em euro, sem uma curva de juros consolidada nessa moeda. "O resultado é importante, mas não dá para comemorar tanto com situações e momentos que não são comparáveis", afirmou o operador, que pediu para não ser identificado.
Além da emissão soberana, o Tesouro teve forte atuação no mercado doméstico ao vender no fim da manhã a maior oferta do ano em Letras do Tesouro Nacional (LTN), papéis prefixados, com queda na maioria das taxas. A emissão movimentou 9,35 milhões de LTN e volume financeiro de 7,575 bilhões de reais.
(Reportagem adicional de Patrícia Duarte, em São Paulo, e Nestor Rabelo e Luciana Otoni, em Brasília)