EDITORIAIS da Folha de S.Paulo
Política de ampliar os empréstimos dá sinais de esgotamento, e piora das notas do BNDES e da Caixa são sintoma desse quadro
O rebaixamento da nota de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e da CEF (Caixa Econômica Federal) pela agência Moody's não deve afetar o custo de captação de recursos por essas instituições, ao menos por ora. Suas notas estão agora alinhadas com a do Brasil e ainda na categoria de investimentos seguros.
Mais importante que a classificação é a análise da agência. Ela assinala o crescimento muito rápido dos empréstimos, a sensível piora do balanço patrimonial e a crescente dependência de financiamento do Tesouro.
No caso do BNDES, segundo a Moody's, os empréstimos cresceram 29% ao ano desde 2008, taxa muito superior à alta do PIB no período. É um ritmo vertiginoso, que levou os valores movimentados pelo banco a mais que dobrarem em quatro anos. Em geral, conceder crédito de modo acelerado pode prejudicar a análise da capacidade de pagamento do tomador.
Para tanto, o BNDES contou com R$ 310 bilhões em recursos do Tesouro. De quase zero em 2007, tais aportes -financiados com emissão de dívida pública, nunca é demais lembrar- já representam mais de 51% da captação do banco.
O caso da CEF não é muito diferente. O aumento de sua carteira de crédito foi ainda mais exuberante, de 42% ao ano. Os empréstimos foram de menos de R$ 100 bilhões em 2008 para R$ 350 bilhões em 2012. Seu foco está no setor imobiliário, mas cada vez mais a CEF se aventura em segmentos como infraestrutura e agricultura.
Além de fazer aportes ao BNDES, o Tesouro obrigou as duas instituições a absorver R$ 31 bilhões em ações de empresas estatais e outros títulos. A Moody's estima que 40,5% do capital do BNDES seja composto por ações de estatais.
Não se trata, porém, de uma boa prática bancária. Em momentos difíceis como o atualmente vivido na economia mundial, quando os preços das ações tendem a despencar (basta ver o ocorrido com as ações de Eletrobras e Petrobras nos últimos meses), a solidez patrimonial de um banco adquire relevância decisiva.
O mais marcante é que nem essa ciranda de empréstimos tenha sido capaz de impulsionar a taxa de investimento no país, que permanece em 18% do PIB. Sempre é possível argumentar que o quadro teria sido pior sem o derrame de crédito público, mas o efeito parece pouco discernível.
A estratégia do Planalto de acelerar o crescimento com crédito está se esgotando. Os níveis de endividamento já são altos e, se ainda não há uma bolha perigosa, percebe-se um descompasso que levará algum tempo para ser corrigido.
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