domingo, 31 de janeiro de 2010

Morreu Wilson Martins (1921-2010)

Do Carlo9s Alberto Pessôa

Eminente nonagenário, morreu hoje aqui em Curitiba mestre Wilson Martins. O alquebrado corpo será velado no cemitério luterano, próximo do Couto Pereira, com entrada pela João Gualberto, salvo erro.

Último dos moicanos da grande crítica – literária &de idéias -, Wilson se liga ao tronco do dr. Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde, e q tem no Álvaro Lins um dos mais brilhantes ramos.

WM foi trabalhador infatigável; também cabe a ele autodefinição do Nelson Rodrigues: um remador de Ben Hur! Wilson nunca abandonou as galés; foi retirado delas pela morte.

Sua obra é verdadeiramente ciclópica. Para dar idéia direi q escreveu ao longo da frutífera vida qquer coisa como 4 mil rodapés semanais! De + ou – cinco mil caracteres cada! Vinte milhões de caracteres!

E os grandes livros q batucou nas horas vagas? Um Brasil Diferente – sobre o Paraná – encabeça qquer bibliografia séria sobre a ex-5ª Comarca de São Paulo; A Palavra Escrita merece ser lida inteira; e o q dizer da monumental A História da Inteligência Brasileira, em sete volumes de mais de 600 páginas cada? Isto pra não mencionar sua heterodoxa visão do nosso modernismo.

De formação francesa, passou uma vida a ensinar literatura brasileira em universidades americanas. De uma integridade intelectual admirável, nunca cedeu às modas&modismos, nunca engrossou patotas&igrejinhas, passava bissextamente pela vida literária. Para citar novamente Nelson Rodrigues (uma das suas, dele, WM, incompreensões): tinha a temerária coragem das suas opiniões&idiossincrasias; não hesitava em se opor às autodesignadas vanguardas. Ou de torcer o nariz para a poesia do João Cabral; era humano, falível, limitado. Como todo o mundo, especialmente os gênios.

Tive a honra de conhecê-lo na Ghignone da rua XV, à frente da Schaffer; não sei se pouco antes de ir pros EUA ou pouco depois, numa das suas férias; usava apenas bengala para se apoiar e andar penosamente. De terno&gravata, banhado, barbeado, era belo homem, de belo rosto, com traços semelhantes aos do Barthes.

Nenhuma pose, nenhuma banca, nenhum ar de superioridade; não, não era um causer, contador de casos, anedotas, fofocas da vida literária ou não. (Não quero ser injusto, mas acho q ao Wilson faltava pitada de humor. ATENÇÃO! Não significa dizer q fosse mal humorado. Era sério, mas não era chato.)

Mais tarde, bem mais tarde, qdo voltou à Ctba, pude conhecê-lo melhor graças às artes do Guilhobel: arte da mesa, arte da amizade, arte do convívio; na generosa casa da dona Regina&Guilhobel, em torno da generosa mesa, Wilson ficava muito à vontade na companhia do Nireu Teixeira, do Jaime Lerner, do Tatinho Taborda, do Norton Macedo, do Fábio Campana, do Sanchez, do locutor q vos fala.

À época eu bebia industrialmente JWalker rótulo vermelho; Wilson se contentava com copitcho de pura, branca, das gerais, das minas olorosas. Tchim-tchim. Saúde. Uma pro santo. Pro santo Wilson Martins. Q merece. E q descanse em paz – em Latim fica mais bonito, REQUIESCAST IN PACE.

P.S.:

Algumas poucas vezes insisti pra q escrevesse sua autobiografia intelectual, à maneira da célebre série britânica com os filósofos; fingia q não ouvia; uma pena. (Parece q tinha ojeriza ao eu…)

Um comentário:

  1. Grande perda, quantas saudades dos comes e bebes na casa do meu pai, a comida era ótima mas o serviço!.Tardes e noites maravilhosas. Quanto aprendi com esta turma Wilson,Nireu Teixeira, Jaime Lerner,Tatinho Taborda, Norton Macedo, Fábio Campana, Sanchez e tantos outros.É Nego em Latim fica mais bonito REQUIESCAST IN PACE.

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