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Como passe de mágica, uma proposta para anistiar mensaleiros cassados apareceu na pauta da sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, presidida João Paulo Cunha (PT-SP), ele próprio um mensaleiro. Surgiu assim, do nada, de repente. E só não deu certo porque mais uma vez a imprensa, essa estraga prazeres, agiu a tempo.
Da lavra do então deputado Ernandes Amorim (PTB-RO), o projeto suspende a pena de oito anos de inelegibilidade aplicada a José Dirceu (PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Correa (PP-SP). Diga-se de passagem, a única punição imputada a protagonistas e coadjuvantes do maior escândalo da história do país, que se arrasta há quase seis anos sem cadeia à vista.
Flagrado pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, Cunha, um dos 36 arrolados no processo que tramita no STF, jurou de pés juntos que de nada sabia.
A frase, legado do ex-presidente Lula, que usou e abusou do nada saber quando denúncias batiam nas portas do governo e dos seus asseclas, teve efeito limitado na boca de Cunha. Primeiro ele alegou desconhecimento. Depois, voltou atrás, e disse que ia mandar retirar o projeto de pauta. Pego com a boca da botija, consertou o estrago com outro. Admitiu não ter qualquer controle da comissão que dirige, motivo mais do que suficiente para se afastar dela.
O projeto de anistia é uma pérola. Na argumentação aponta que os três deputados - entre eles o chefe da quadrilha, de acordo com o procurador-geral da República - foram os únicos punidos, enquanto outros tiveram a complacência de seus pares. Só faltou pedir indenização por perdas e danos.
Desfaçatez, cinismo, mau-caratismo é pouco para tipificar o autor da proposta e aqueles que estimularam o seu trâmite. Fosse este um país sério, fossem os representantes do povo dignos dos votos que receberam, matéria dessa natureza morreria no nascedouro. Não prosperaria.
O projeto de anistia a mensaleiros andou rápido. Bem mais veloz do que dezenas de propostas parlamentares, muitas delas relevantes, que apodrecem nos escaninhos da Câmara. Ainda que com parecer contrário, entrou em pauta na CCJ e por pouco não chega à votação.
Só parou pela vigilância da imprensa.
Da mesma imprensa espicaçada pelos donos do poder, apelidada de golpista pelos mesmos mensaleiros e suas milícias que, como discípulos, seguem cegos os mandamentos que Lula grafou na tábua da impunidade. Entre eles, as máximas do “todo mundo faz” e do “eu não sabia”.
João Paulo Cunha só fez repetir o mestre.
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan
no Blog do Noblat
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