quinta-feira, 9 de junho de 2011

O uso do cachimbo - Dora Kramer



Qualificada Gleisi Hoffmann já mostrou que é nestes poucos meses de mandato como senadora do PT. Resta saber, e a resposta só o tempo dará, se reúne qualidades suficientes para dar conta da chefia da Casa Civil.
Articulada, petista de quatro costados, defensora da tese de que o mensalão foi um deslize dedicado à causa e, portanto, digno de defesa, a senadora tem sido vista como a marca inicial do efetivo começo do governo Dilma Rousseff, formado por pessoas de sua confiança.
Uma tentativa de sinalizar a tomada de comando, inicialmente prevista para após um ano de governo, quando seriam reavaliadas as indicações feitas pelo antecessor e reformado o ministério.
O desmoronamento de Antonio Palocci conjugado à exposição da desordem reinante na área política do governo resultaram em crise e acabaram antecipando parte das mudanças.
Isso é uma coisa. Outra bem diferente é por isso se chegar à conclusão de que se inicia agora uma nova fase de total renovação em que a presidente toma a si as rédeas e muda tudo.
Essa é a versão que interessa ao governo fazer prosperar, mas não necessariamente é a tradução da realidade.
Dilma desde ontem assumiu a Casa Civil, até então uma cidadela onde Palocci reinava absoluto. Mas, daí a dizer que o governo mudará de forma substancial vai uma boa distância.
Por vários motivos. O principal é que as pessoas não mudam do dia para a noite.
Partindo do princípio de que a ausência de atenção política e o estilo belicoso da presidente resultaram na desarticulação da base, na paralisia administrativa, no encolhimento dos ministros ao temor de agir e desagradar, não é de esperar grandes modificações porque ela continua a mesma.
Nesta semana, no almoço de "conciliação" com o PTB, foi extremamente ríspida com Luiz Sérgio, das Relações Institucionais. Quando Fernando Collor ponderou que a liberação dos documentos oficiais ao público traria constrangimentos a governos recentes, Luiz Sérgio informou que já havia dito isso à presidente e foi cortado. "Que disse o quê! Não disse nada", reagiu Dilma na frente dos senadores.
Gleisi Hoffmann pode até ajudar, mas vai se deparar com a impossibilidade de acumular atribuições políticas e administrativas na mesma intensidade.
Esse acúmulo configurou-se um equívoco na época de José Dirceu e repetiu-se como erro no breve período Palocci, que, assoberbado, acabou produzindo um passivo enorme de insatisfações entre os partidos aliados.
Também conspira contra a tese da "refundação" ou "reinauguração" o fato de que o desenho permanece inalterado: PT de um lado, PMDB de outro e a tensão entre os dois. A dinâmica do embate permanente não será alterada. É da natureza da aliança.
Agora mesmo os parceiros vivem um momento de especial estresse. Satisfeito com a consolidação pública de sua condição de fiel da balança, o PMDB prefere assistir de camarote ao PT resolver ao seu modo a reorganização da área política.
Para concluir o raciocínio sobre a precipitação de se enxergar mudança profunda no modo petista de governar, temos a evidência de que Lula não se afastou nem se afastará do cenário. Uma porque Dilma não pode prescindir dele e outra porque interessa a ele levar o crédito.
Dilma decidiu contra a opinião de Lula, que defendia a manutenção de Palocci? Difícil crer. Quando precisou demitir Palocci Lula o fez em tempo mais breve que o utilizado pela presidente para chegar à mesma conclusão sobre o prejuízo de ter na Casa Civil um ministro na berlinda.
Primeiro a saber. Segunda-feira, durante a recepção a Hugo Chávez no Palácio do Planalto, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, puxou de lado o ministro Paulo Bernardo e comunicou: "O desfecho tem a ver com você".
Antes que o ministro, cotado que estava, concluísse ter sido o escolhido para substituir Antonio Palocci, Carvalho completou: "A presidente vai chamar a senadora para a Casa Civil".
Em seguida, o marido chamou a mulher, Gleisi Hoffmann, de lado e transmitiu a informação.

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