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Depois de exposta como inapetente para as coisas da política e ser colocada em xeque até pelo seu inventor, a presidente Dilma Rousseff emergiu da asfixia que paralisou o governo por quase um mês. E veio à tona sem as máscaras que vestira na campanha eleitoral.
Crua, dura, disposta a mostrar quem manda no pedaço. Seria ótimo, não fosse esse um figurino também ditado pelo marketing, meticulosamente desenhado pelo publicitário João Santana, a quem a presidente dedicou horas a fio no auge da crise que culminou com a queda do ex-ministro Antonio Palocci.
A demora, a indecisão e as interferências do ex-presidente Lula corroeram os créditos que Dilma poupara ao longo dos primeiros meses. Aliás, um capital invejável: mais de 55 milhões de votos, maioria acachapante no Congresso Nacional, simpatias da dócil e quase inexistente oposição, elogios da mídia e farta aprovação popular.
Mas o baque na imagem da presidente acendeu o alerta amarelo.
Era preciso agir rápido. Não bastava apenas transplantar o coração do governo. Dilma deveria encarnar outro personagem, mais forte, agressivo. Diga-se, de passagem, muito mais condizente com ela do que os sorrisos insossos e as docilidades a que teve de se render para ganhar votos.
Pouco valeria descartar Palocci se a substituição pela senadora Gleisi Hoffmann não fosse vista como decisão individual e exclusiva da presidente. Não por acaso, no pronunciamento para empossar a nova ministra, Dilma escolheu não citar Lula. Mostrou independência.
E de nada adiantaria tirar Luiz Sérgio das Relações Institucionais se o PT, com as suas infindas lutas fratricidas, ganhasse o posto.
À vontade no papel que lhe confere autoridade, o que não raro ela confunde com autoritarismo, Dilma foi ao extremo: contra tudo e todos – e também contra a lógica - nomeou Ideli Salvatti como articuladora política. Uma petista, mas que desagrada quase o PT inteiro.
No Ministério da Pesca, que já serviu de prêmio à mesma Ideli pela derrota eleitoral sofrida em 2010, Dilma, em um gesto de generosidade, acomodou Luiz Sérgio. Com isso, deixou escapar qual a serventia da tal pasta.
Os riscos da estratégia são enormes. Mas nas contas marqueteiras podem valer a pena caso Dilma consiga recuperar o fôlego. O país? Este pouco ou quase nada interessa. O importante é não perder muitos pontos nas pesquisas.
Lula, ao que parece, entendeu o recado. Não reconhece que prejudicou a sua pupila, mas, na primeira oportunidade que teve, fez questão de bradar que “a companheira Dilma é senhora da situação”. A frase prova que Dilma ainda precisa de socorro. Afinal, só se lançam salva-vidas quando há risco de afogamento.
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan
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