Itamaraty apoia envio de relator para analisar a situação dos direitos humanos no Irã, mas não acredita que a medida afaste os dois países
Lisandra Paraguassu - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA
A votação contra o Irã no Conselho de Direitos Humanos da ONU (CDH) não vai afetar o relacionamento do Brasil com Teerã. A avaliação do chanceler Antonio Patriota é que a relação entre os dois países é "madura para não ficar refém de uma ou outra decisão", de acordo com informações passadas ao Estado pelo porta-voz do Itamaraty, ministro Tovar Nunes.
Até a noite de ontem, não havia chegado ao Ministério das Relações Exteriores brasileiro nenhuma reação formal dos iranianos sobre a votação no CDH, tanto pela Embaixada do Irã em Brasília quanto do governo de Mahmoud Ahmadinejad para a Embaixada do Brasil em Teerã.
"Se chegar alguma manifestação, registraremos com carinho e daremos a resposta diplomática cabível", disse Tovar. Apesar de a via diplomática formal não ter sido usada, pelo menos por enquanto, a delegação iraniana na ONU deixou claro seu descontentamento depois da votação, afirmando que o Brasil voltava a se comportar com "país pequeno", "curvando-se aos EUA".
Para o Itamaraty, essa é uma reação "natural", mas o Brasil "tem consciência clara de sua posição sobre direitos humanos". "A violação dos direitos humanos é muito grave e não pode se abrigar no conceito de soberania", disse. O Brasil justifica o voto favorável ao envio de um relator especial para analisar a situação dos direitos humanos no Irã pelo fato de, desde 2005, diversos pedidos de visitas de relatores terem ficado sem resposta do governo iraniano.
Além disso, Brasília considera que a situação dos direitos humanos no Irã "merece atenção". "Nossa explicação de voto é muito clara. Já havíamos registrado que gostaríamos de um movimento por parte do Irã, que não houve. A situação é tal que fomos levados a pedir esse movimento no CDH", disse o porta-voz do Itamaraty.
A votação de ontem, no entanto, não altera a posição brasileira sobre a questão nuclear iraniana. O Itamaraty continuará defendendo o direito do Irã de ter um programa nuclear com fins pacíficos, desde que siga as regras internacionais.
Cuba. A posição brasileira, esmiuçada ontem, também não será a norma daqui para frente. Cada caso será analisado individualmente. Cuba, por exemplo, não precisa temer uma condenação brasileira. A avaliação do Itamaraty é a de que a ilha tem feito movimentos favoráveis e há avanços. Além disso, Havana teria uma situação social avançada, muito melhor do que outros países latino-americanos.
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