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Viagem de Obama ao Brasil cumpre roteiro previsto, sem destaques ou resultados palpáveis no que mais importa, relações comerciais
A visita ao Brasil do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, transcorreu de maneira previsível, com a mornidão típica de compromissos diplomáticos. Nada de trepidante se anunciou, nem mesmo na questão nevrálgica das relações comerciais.
Não que a viagem tenha sido desimportante, ao contrário: a manutenção da agenda, no auge da crise da Líbia, atesta a determinação de revigorar as relações, estremecidas na administração Luiz Inácio Lula da Silva. A vinda de Obama logo no terceiro mês de mandato da nova presidente, Dilma Rousseff, só faz enfatizar a relevância simbólica da visita.
Os primeiros passos para a reaproximação foram dados por Dilma. Ao deplorar a prática de apedrejamento no Irã, a presidente acenou com uma correção de rumo na política externa, bem recebida nos Estados Unidos.
Obama, por seu turno, percebeu a oportunidade de lançar um gesto de relações públicas que também poderia ser apresentado ao público interno como promoção de exportações de seu país e criação de empregos. De fato, a balança do comércio bilateral inverteu-se, evoluindo de superavit em favor do Brasil (US$ 9,9 bilhões em 2005 e 2006) para um deficit de US$ 7,8 bilhões em 2010.
Motivo bastante, nem é preciso mencionar, para Dilma Rousseff buscar estreitar relações com os EUA, ainda o maior mercado consumidor do mundo.
A economia, portanto, estava no centro de gravidade da visita de Obama e deve servir como diapasão para aferir o alcance prático da viagem. Como de hábito nesse gênero de encontro, os efeitos imediatos foram escassos.
Da profusão de memorandos de entendimento extraem-se coisas como uma comissão para tentar eliminar entraves ao comércio bilateral e o possível abrandamento das barreiras não tarifárias à carne bovina do Brasil. Mas Obama chegou de mãos quase vazias, sem nada a dizer acerca das sobretaxas ao álcool brasileiro, por exemplo, outro antigo contencioso.
Coube a Dilma toda a iniciativa nessa matéria. Falou da crescente importância do comércio com a China, destacou as barreiras a produtos nacionais e criticou indiretamente decisões econômicas dos EUA que prejudicam as moedas de outros países. Defendeu os interesses do Brasil com pragmatismo, firmeza e elegância.
A mesma assertividade não parece ter pautado a organização da viagem pelo Itamaraty, diante das excessivas exigências de segurança do governo visitante. Jamais deveria ter permitido que ministros de Estado fossem revistados, em solo brasileiro, por oficiais norte-americanos. Um detalhe, decerto, mas sugestivo de que muito ainda resta por reconsiderar nas relações entre os países.
A visita de Obama foi um primeiro passo, que esbanjou simpatia, economizou concessões reais e decepcionou na retórica. O declarado "apreço" pela reivindicação brasileira de vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU não passou de mesura condescendente. Há uma longa maratona pela frente até a ida de Dilma aos EUA, no segundo semestre.
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