quinta-feira, 2 de junho de 2011

Editoriais = Folha de S.Paulo - Desaceleração à frente


A divulgação dos dados de crédito para abril confirma que as medidas restritivas adotadas pelo Banco Central estão fazendo efeito e reduzindo os riscos de aquecimento excessivo da economia.
O objetivo do governo é conter o crédito ao consumo e limitar novos empréstimos dos bancos públicos, sobretudo do BNDES. Em paralelo, pretende manter o crescimento do crédito imobiliário.
Os novos empréstimos às pessoas físicas, excluindo o chamado crédito rotativo, apresentaram estabilidade no mês e permanecem 8% abaixo do patamar do último trimestre de 2010.
Ao mesmo tempo, nota-se uma sensível piora nas condições para a concessão de crédito pessoal como um todo. As taxas de juros têm subido (de 39% ao ano no fim de 2010 para 46,8% ao ano em abril), e a inadimplência dá sinais preocupantes. Provavelmente, isso levará a uma desaceleração no consumo em pouco tempo.
Merece destaque a perda de vigor no crédito dos bancos públicos (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES, principalmente), cujo estoque cresce a taxas mais baixas que no ano passado. Depois de passar de 34% para 42% do crédito total entre 2008 e 2010, o crédito público permanece estável desde então. O BNDES, em particular, tem mantido a carteira de crédito em torno de R$ 180 bilhões desde o fim de 2010.
A maior fonte atual de crescimento do crédito são as empresas. Elas permanecem tomadoras, em razão da maior necessidade de investimento e capital de giro, o que não é má notícia.
Por fim, o crédito imobiliário tem crescido a taxas próximas a 50% ao ano. Não é um crescimento preocupante, ainda, na medida em que essa modalidade representa apenas 4% do PIB. Trata-se de uma fração pequena do padrão internacional, superior a 20% do PIB em vários países em desenvolvimento e a 50% no mundo desenvolvido. Nesse setor, as carências do Brasil são evidentes.
Em resumo, o comportamento observado dá mostras de que pode ser atingida a meta de aumento do crédito entre 10% e 15% no ano fixada pelo Banco Central.
Além do que ocorre com o crédito, há os sinais incipientes de perda de vigor nos rendimentos do trabalho e a fraqueza da produção industrial, que teve queda imprevista de 2,1% de março para abril.
Diante disso, parece razoável prever uma significativa moderação no ritmo de crescimento da economia nos próximos meses.

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