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Enquanto o mal-estar na base de apoio persiste, presidente tenta controlar motins com mensagem, lamentável, de que demissões acabaram
A presidente Dilma Rousseff fez chegar aos partidos aliados que não pretende mais efetuar demissões. Trocas na Esplanada, só a partir do fim do ano, quando alguns ministros ficariam livres para disputar as eleições de 2012.
O recado da presidente parece ter pelo menos dois propósitos. Primeiro, tranquilizar os ministros que estão no cargo, mas se sentem ameaçados, bem como acalmar as lideranças no Congresso a quem esses ministros são ligados.
Segundo, com seu gesto Dilma procura dar uma resposta para conter os motins instalados nas bancadas, notadamente as do PMDB e do PP, cujas disputas internas têm como objetivo desestabilizar os ministros dos respectivos partidos -o titular do Turismo, Pedro Novais (PMDB), e o das Cidades, Mário Negromonte (PP).
Ainda que a preocupação da presidente seja compreensível do ângulo de quem precisa zelar pela gestão política do governo, é inevitável a constatação de que ela, lamentavelmente, decidiu pisar no freio da chamada faxina ética.
Ontem mesmo Dilma disse que as demissões "não são a pauta do governo". Na verdade, feitas as contas, essa moralização incipiente dos costumes políticos contou com a atuação da presidente apenas no caso dos Transportes.
Nem Antonio Palocci (Casa Civil) nem Wagner Rossi (Agricultura) foram demitidos por Dilma. Caíram de podres, como se diz.
Os focos de conflagração na base aliada não significam o fim do apoio ao governo, longe disso. Quase sempre, as insatisfações traduzem apenas chantagens sem consequências práticas por parte de partidos e figuras educados na cultura da fisiologia.
É inegável, no entanto, que o ambiente político esteja degradado. Quizilas paroquiais assumem dimensões que não deveriam e revelam, ao mesmo tempo, o mal-estar difuso instalado em Brasília.
Exemplo disso é a entrevista do ministro Mário Negromonte ao jornal "O Globo", ontem. Fustigado por setores de seu partido, o titular das Cidades faz ameaças: "Imagine se começar a vazar o currículo de alguns deputados. Ou melhor, a folha corrida. Mas não vou citar nomes".
Outro conselho do mesmo gênero que o ministro dá a colegas do PP é o de que "não devemos expor as vísceras", porque "em briga de família, irmão mata irmão e morre todo mundo. Eu disse que isso vai virar sangue. Esse pessoal não sabe avaliar os riscos".
Os termos usados e o conteúdo das declarações caberiam perfeitamente num filme sobre a máfia. Será um grande retrocesso, mesmo diante do pouco que já foi conquistado, se Dilma tolerar esse tipo de colocação, esse tipo de ministro, esse tipo de política.
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