Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Toda vez que Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso por alguma razão são vistos juntos, surgem especulações sobre aproximações de natureza política.
É fato que ambos, cada um a seu modo, tratam de alimentá-las. Mais recentemente, o ex-presidente manifestou apoio à dita faxina ética da presidente e ainda aconselhou a oposição a deixar para lá a ideia de criar uma CPI para investigar a corrupção no governo.
Dilma, por seu lado, aproveitou a solenidade de lançamento do programa Brasil sem Miséria para o Sudeste para falar em "pacto republicano e pluripartidário" em plena cidadela tucana, o Palácio dos Bandeirantes, ao agradecer a presença de FH na solenidade.
Junte-se a isso o tratamento especial que FH recebeu de Dilma durante o almoço para Barack Obama e a carta elogiosa que lhe enviou por ocasião do aniversário de 80 anos e podemos tirar quais conclusões?
A rigor, nenhuma que guarde relação com projetos políticos em comum. A começar pelo referido "pacto" que só tem o nome: faltam-lhe os termos.
Entre o ex e a atual nada há além de boa educação e cálculo político. Para Dilma interessa incorporar ao projeto do PT a parcela do eleitorado que não se reconhece nas grosserias de Lula. Para Fernando Henrique interessa incensar Dilma, a fim de acentuar a desaprovação a aspectos negativos do modo de agir de Lula.
Pessoalmente FH não tem planos eleitorais e Dilma seguirá o plano que Lula traçar. Por isso foi ela a escolhida por ele e não um político "de raiz" que pudesse dar-se a independências.
Dilma e Lula não têm projetos políticos distintos: o que Lula quiser fazer será feito. Ele tem o partido e mais todo o entorno de expectativas de outras legendas nas mãos e ela não dispõe de autonomia para alterar os planos de longo prazo de poder, o que, obviamente, exclui qualquer tipo de aproximação com o PSDB.
José Serra e Aécio Neves, que estão na batalha, diferentemente de FH, entendem isso bem e por isso não atuam no mesmo diapasão do ex-presidente.
Dilma e Fernando Henrique fazem como que as honras da casa na sala de visitas, enquanto os personagens da luta que voltará a ser travada em termos de preliminar em 2012 e ao molde de finalíssima em 2014, estão onde sempre estiveram: em campos estritamente opostos.
O resto é conversa de tempos de estio. Pura fruta de entressafra e nada mais.
Gente diferente. O ex-presidente Lula tinha toda razão. O presidente do Senado, José Sarney, realmente não é uma pessoa como as outras.
Não tem percepção do mundo em volta, não tem noção de limite, não tem amor próprio em grau suficiente para se preservar de certos vexames e não tem freio na expressão do cinismo.
Usa um helicóptero da Polícia Militar do Maranhão em translado de lazer à ilha de Curupu, leva junto um empresário amigo com interesses comerciais no Estado, atrasa com isso o atendimento a um homem com traumatismo craniano e alega que tem "todo o direito" ao transporte porque viajava a convite da governadora Roseana Sarney.
Sua filha que o convidou para ir à própria casa de veraneio para passar fins de semana.
Sarney faz questão da liturgia, é exigente quanto a formalidades, mas é absolutamente descontraído quando se trata do uso e abuso da coisa pública.
Por essas e muitas outras não pôde, ao completar 80 anos no ano passado, contar com as homenagens que recebeu este ano o também ex-presidente Fernando Henrique.
Enquanto um é celebrado pela biografia o outro se vê enredado numa folha corrida.
Cobrança. O senador petista Walter Pinheiro não acha que o PT tenha razões para temer a "faxina" da presidente Dilma, concorda com medidas saneadoras, mas acha que o governo está devendo aquela que na opinião dele é a mais eficaz.
"Falta tirar da gaveta do Collor o projeto da Lei de Acesso à Informação. É o melhor instrumento de transparência que existe e cria o ambiente para todo mundo trabalhar limpo."
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