Ivan Lessa
Pronto. Ontem perdi mais 110 minutos de minha vida. Ante-ontem, mesma coisa. Hoje, amanhã e depois, idem. Lentamente, na ampulheta que marca meu tempo neste planeta, as areias que por ela correm já devem ter indicado a passagem por puro desperdício de 8 anos e meio.
Joguei esse tempão fora. Bem, mais ou menos. Afinal ninguém me forçou a ficar sentadão diante do aparelho que agora sabemos mortífero.
Graças a estudiosos australianos que trabalham para e com a instituição chamada Thinkbox (literalmente caixa de pensar; são irônicos os nossos queridos antípodas) que levantaram um minucioso estudo sobre a questão.
O curioso é que a Thinkbox é um órgão marqueteiro. Os australianos entendem de marketing mesmo? pergunto para mim mesmo, perdendo na certa outros (preciosos?) minutos, batucando no teclado do computador estas mal digitadas linhas.
A pesquisa, em princípio, destinava-se a procurar um relacionamento entre o diabetes, a obesidade e outros males com aquilo que, no Brasil, Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, batizou de "máquina de fazer doido". Foram dar com esses resultados desanimadores que vou enumerar daqui a pouco, se tempo me for dado.
Antes, vou me desculpando por estar jogando minha vida fora. Não me vanglorio de coisíssima alguma. É que tenho lá uma pequena cota de diabetes, embora nenhuma obesidade, mas o coração faz pocotó-pocotá e não o saudável tique-taque daqueles que vão concorrer às chatíssimas Olimpíadas de 2012, para não falar - mas vou falar porque a coisa é séria - o raio do enfisema que depois de 50 anos de cigarrinho, tentando imitar Humphrey Bogart e Bette Davis, simultaneamente, fui arrumar para mim mesmo.
Cantei antes, pois agora, como a cigarra da fábula, não digo que dance, mas planto-me diante da televisão e lá vejo passar a vida dos outros enquanto a minha vai se indo, mais rápido do que eu gostaria.
Como a cigarra, eu preferia dançar para aprender a lição.
De passagem, sempre segundo os pequisadores australianos, o cigarro rouba 11 minutos da vida daquele que o fumar, ou seja, meia-hora de televisão. O artigo em que catei os dados não é muito explícito: 1 cigarro? 11 minutos? Então eu já deveria ter pego meu boné há seculos.
Ainda os australianos que "pensam em caixa". Enumero mais algumas novidades sobre a interrelação homem e aparelo eletro-doméstico - e confesso que eu preferia estar falando de liquidificador que, até onde sei, não me roubou mais que alguns minutos de minha vida inteira.
No estudo, que acabou publicado numa revista acadêmica que veio a ter a estas margens nada plácidas, outros dados inquietantes: calcula-se que 9 bilhões e 800 mil horas australianas foram passadas vendo TV em 2008.
Trocando em deprimentes miúdos, isso significa que foram 286 mil anos de vida perdidas assistindo a programas de auditório, horas de calouro, seriados americanos e, não nos esqueçamos, programas científicos. Talvez até sobre estudiosos australianos.
E más notícias para os anunciantes: se, na hora do comercial, o freguês de cadeira dela se levantar e dar uma corridinha olímpica pela sala, em vez de admirar os efeitos especiais de um anúncio (aqui no Reino Unido, na TV comercial, são 47 por dia), o telemaníaco, estará se beneficiando e não ficando com os cabelos lisos e sedosos como os de Julia Roberts, se estão lembrados do rumoroso caso do retoque digital.
O espectador médio, sempre aqui, repito, terá visto, algo aborrecido, mas visto mesmo assim, 18 horas e 9 minutos de comerciais por semana. 48 minutos a mais que no ano passado, frise-se.
Tudo indica, sempre segundo o estudo, que essa média é a preponderante em quase todos países do mundo.
A mais respeitável das publicações médicas britânica, The Lancet, garante que 15 minutos de exercícios físicos diários aumentam em 3 anos a expectativa de vida de uma pessoa.
Tenho de ser sincero. Se, desde que que a TV chegou ao Brasil, eu soubesse disso, eu teria continuado firme nos - sim, podem se chocar indignados - 2 maços de cigarros por dia. A carne é fraca. E os pulmões como ela e com ela acabam.
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