Em reunião do Conselho Político, presidente diz que a Emenda 29, que fixa porcentuais mínimos para investimento no setor, só pode ser aprovada se houver novos recursos; líderes insistem em votação, mas buscam alternativa fiscal
Denise Madueño e Vera Rosa / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Em reunião do Conselho Político, convocada para anunciar novo ajuste fiscal e pedir a aliados que barrem projetos com potencial para aumentar gastos, a presidente Dilma Rousseff condicionou a votação da Emenda 29 - que define gastos da União, Estados e municípios com a saúde - a uma fonte de receitas. A votação da proposta foi marcada para 28 de setembro pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), em acordo com líderes partidários, sem apoio do governo.
Apesar dos apelos do Planalto, há uma crescente pressão dos deputados para a votação do projeto no dia marcado por Maia. Hoje, os líderes reúnem-se para tentar encontrar uma fonte de financiamento. Levantamento feito pelo Estado mostra que 14 dos 17 governadores consultados são favoráveis à regulamentação da emenda.
Embora Dilma não tenha falado em ressuscitar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), todos os participantes da reunião do Conselho Político entenderam que recursos para o setor só serão possíveis com um novo tributo. O governo não quer ser o autor de uma proposta de aumento de impostos e, por isso, transfere o debate ao Congresso e aos governadores. Durante a campanha eleitoral, Dilma defendeu a regulamentação da Emenda 29.
Governadores que já pregaram a volta da CPMF, como o mineiro Antonio Anastasia, foram criticados por seus correligionários. Agora, o Planalto repassou ao presidente da Câmara a missão de reunir governadores e prefeitos, na tentativa de encontrar uma solução.
"Temos um mês para encontrar uma alternativa", disse o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN). Ele assumiu com a bancada o compromisso de votar a Emenda 29 no dia marcado por Maia. "Essa é uma bandeira do PMDB", insistiu.
Alves propõe uma solução compartilhada. Quer envolver na discussão os governadores, os senadores e os ministros Alexandre Padilha (Saúde) e Guido Mantega (Fazenda). "Vamos levar uma resposta responsável ao governo. A presidente será tranquilizada de que não vai ser cobrada pelo que não pode dar", argumentou o líder do PMDB.
Foto. Para a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, é preciso agir rápido. "Se não tratar de onde vem a fonte, é como votar para sair na foto, e não resolve o problema", disse Ideli.
Ela admitiu que o debate será aberto com governadores e congressistas. "O pessoal vai abrir uma discussão sobre isso (nova fonte de financiamento), inclusive com os governadores. É inevitável, algo que tem de ser debatido", afirmou a ministra.
O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), endossou o recado: "Esse é um problema que precisa ser equacionado e teremos a discussão no Congresso. Sem fonte de financiamento, a Emenda 29 não resolve o problema da saúde."
O líder do PDT na Câmara, Giovanni Queiroz (PA), notou que Dilma tem um calendário em mente. "Ela disse que quer fazer o enfrentamento sobre essa questão no momento certo, a partir de outubro", afirmou.
"Para votar emenda 29, tem de encontrar alternativa. A presidente colocou a situação clara. Temos reserva, mas essa reserva, agora, é que segura a economia. Se acabar, teremos um problemaço", disse o líder do PTB, Jovair Arantes (GO). "Temos de achar um ponto de equilíbrio"
Salários de policiais. Além da Emenda 29, o governo está preocupado com a Proposta de Emenda Constitucional 300 (PEC 300), que tramita na Câmara e cria um piso nacional de salários para policiais e bombeiros. Para o ministro da Fazenda, reajustes e criação de pisos salariais para categorias, neste momento, provocariam "efeito cascata", inviabilizando o equilíbrio das contas públicas.
Na reunião, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) e o deputado Vitor Paulo (PRB-SE) argumentaram que o Congresso pode resistir aos apelos do Planalto, já que os projetos em questão têm amplo apoio popular.
Foi então que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) saiu em socorro de Dilma: "Compreendo as dificuldades dos líderes em convencer suas bases, por causa das pressões, mas o momento é de termos compreensão", disse Temer, segundo relatos de integrantes do Conselho Político.
IMPOSTO EM DEBATE
Dilma Rousseff
Então candidata à Presidência, em maio de 2010
Então candidata à Presidência, em maio de 2010
"Assumo o compromisso de lutar pela emenda 29. Houve perda de R$ 40 bilhões quando a CPMF foi extinta"
Dilma Rousseff
Em maio de 2011
Em maio de 2011
"Todos nós precisamos reconhecer que se trata de questão complexa. Essa discussão não se completou na esfera da União, dos Estados e municípios"
Antonio Anastasia
Governador de Minas (PSDB), em novembro de 2010
Governador de Minas (PSDB), em novembro de 2010
"Há sempre necessidade de ter financiamento para a saúde. Todo tributo merece aperfeiçoamento permanente"
Eduardo Campos
Governador de Pernambuco e presidente do PSB, em fevereiro de 2011
Governador de Pernambuco e presidente do PSB, em fevereiro de 2011
"Aumentar a carga tributária não é o caminho neste momento"
Cid Gomes
Governador do Ceará (PSB), em fevereiro
Governador do Ceará (PSB), em fevereiro
"É fundamental que tenhamos uma fonte de recursos para custeio. É fundamental implementarmos uma nova contribuição"
Jaques Wagner
Governador da Bahia (PT), em fevereiro
Governador da Bahia (PT), em fevereiro
"Sou a favor de uma nova contribuição, sim. 8% ou 10% podem contribuir para o atendimento de 85% da sociedade"
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