terça-feira, 16 de agosto de 2011

Editoriais = Folha de S.Paulo - A imagem de Dilma


Presidente colhe dividendos de popularidade com "faxina" na Esplanada, mas sua gestão mal começou a enfrentar os grandes problemas do país 

A popularidade de Dilma Rousseff permanece alta, como verificaram pesquisas de opinião tanto do Datafolha quanto do Ibope: 48% de avaliações "ótimo" e "bom" para seu governo.
Os questionários, aplicados no final de julho e começo de agosto, não captaram o efeito da deterioração das expectativas econômicas com a corrida às Bolsas e o novo escândalo, envolvendo agora o Ministério do Turismo. Mas é pouco provável que esses eventos da semana passada pudessem prejudicar a imagem da presidente.
O vendaval que varreu os mercados financeiros do mundo, embora tenha sacudido também a Bovespa, por ora afeta pouco a economia nacional. A estimativa de crescimento do PIB para este ano pode ser revista de 4% para 3,5%, mas não há explosão inflacionária nem alta de desemprego à vista. Ao contrário: avalia-se que o repique da crise de 2008 oferece boa oportunidade para o Brasil começar a reduzir a taxa de juros.
A percepção do público é de um país em bonança, ainda que o poder aquisitivo tenha sofrido alguma perda com a alta de preços de serviços e de alimentos. E Dilma vai firmando a imagem -um tanto superfaturada- de governante disposta a combater a corrupção.
Como seu governo também é visto como continuidade da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, na visão de muitos ela estaria saindo melhor que a encomenda: um Lula sem mensalão, por assim dizer.
Chama a atenção que Dilma detenha avaliação popular tão positiva ao terminar seu primeiro semestre de governo (Fernando Henrique Cardoso e Lula, nessa altura dos seus, ficaram na faixa de 40% a 43%). Para ser rigoroso, sua administração ainda não começou. Nenhum grande plano seu viu a luz do dia, com exceção de pacotes publicitários como o Brasil sem Miséria.
Os futuros índices de popularidade de Dilma resultarão menos de sua imagem presente ou de suas iniciativas erráticas e mais dos atos de governo real que será obrigada a praticar. Ontem, a presidente vetou na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2012 um artigo que reservava verba para reajustar acima da inflação os proventos de aposentados do INSS. Por elogiável que seja tal disciplina fiscal, decerto não contribuirá para torná-la mais popular.
Mais decisões como essa terão de ser tomadas, nos meses vindouros. O arrefecimento da dinâmica econômica trará erosão paulatina da sensação de bem-estar.
Se os escândalos e denúncias de corrupção prosseguirem, cedo ou tarde afetarão o prestígio do governo. Para o público, ficará evidente que a "faxina" está aquém da sujeira acumulada em décadas de desmandos. Para a classe política incrustada no Congresso, Dilma verá agravada a fama adquirida de parceira iracunda e refratária a compromissos.
Até aqui, a presidente favoreceu a opinião pública em detrimento da base parlamentar. Se a primeira lhe faltar, terá de seguir o conselho de Lula e ceder à segunda.

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