- Mary Zaidan
Toda vez que dirigentes públicos são flagrados na boca da botija lambendo o mel que não lhes pertence, insiste-se na falácia da opção por quadros técnicos em detrimento dos políticos. Quando agem como gafanhotos famintos então, o tecnicismo vira solução única. Uma enganação conhecida que a presidente Dilma Rousseff repete para tentar prolongar os aplausos que tem recebido desde que iniciou a tal faxina no Ministério dos Transportes.
Faxina que até agora se limitou às demissões. Nenhum processo, nenhuma nova investigação, nenhuma prisão. Bate-se o tapete sujo na soleira da porta e tudo resolvido. Ninguém responde por nada, não há qualquer punição. (Aliás, por onde anda o ex-ministro Antonio Palocci?)
Tudo fica como dantes no quartel de Abrantes, que, a partir de agora, está limpo e garantido porque não serão os políticos – essa corja – que ocuparão o Dnit.
Além de deseducador, já que amplia a sensação de que não há conserto, todo político é ladrão e pronto, afastando ainda mais os cidadãos de bem da política, o truque joga sobre todos a culpa de alguns. Cria-se a falsa noção de que os cargos de livre nomeação não são políticos e de que técnicos são menos vulneráveis à corrupção.
De quebra, beneficia-se diretamente a presidente, que chegou ao posto número 1 do país como se técnica fosse, e do tipo que tem aversão à política.
Mentira pura.
Dilma fez política a vida inteira. Desde os idos da juventude revolucionária. Pode até não gostar da lida diária da política partidária, trabalhosa, chata. Até porque, em sua personalidade sobressai o viés autoritário, o bater na mesa, dar ordens, governar no grito. Prática muito distante dos afagos tão cultivados por seu padrinho e antecessor.
Chega a ser curioso ver os chamados técnicos vendidos como mágicos que saneiam as bandidagens dos políticos. A intenção de nomeá-los ganha destaque na mídia, como se eles resolvessem todas as mazelas.
Desconsidera-se que não existe nomeação técnica. Ainda que existisse, por detrás de um técnico sempre está um político, aquele que o indicou. Estão as cotas partidárias ou pessoais. O Dnit é a prova cabal disso. Eram técnicos e não políticos as duas dezenas de demitidos.
Nesta semana devem ser anunciados os novos diretores do Dnit. Todos com perfil técnico, como determinou a presidente Dilma em mais uma grande encenação.
Na verdade, a discussão inútil sobre perfis técnico ou político esconde o essencial: o que não pode é roubar. E isso deveria valer para todos.
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan
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