Segunda potência econômica do mundo, a União Europeia (UE) continua refém de uma de suas menores economias, a Grécia, novamente à beira da insolvência e necessitada de um novo pacote multibilionário de ajuda - ou de uma renegociação de sua dívida pública. As tensões na periferia do euro são a principal ameaça à recuperação da Europa, segundo o Panorama Econômico Regional apresentado nessa quarta-feira, em Frankfurt, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Grécia, Portugal e Espanha devem rolar neste ano dívidas equivalentes a 10% de seu Produto Interno Bruto (PIB) combinado. Também terão de enfrentar pesados pagamentos os governos da Bélgica, da Irlanda e - fora da zona do euro - o Reino Unido. Um dia antes, em Zurique, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, abandonou uma importante conferência para discutir, num hotel, o agravamento da crise grega e as possíveis ações de socorro. Deixando sua habitual discrição - ele conversou sobre o assunto por telefone celular, num corredor - resumiu sua avaliação do quadro numa frase no final do diálogo: "Se não houver solução, o.k., mas então nós vamos para o inferno".
A solução - nova ajuda, renegociação da dívida grega ou combinação das duas medidas - envolve um duro trabalho de convencimento não só dos bancos, mas também, e principalmente, de alguns parceiros europeus, a começar pelos alemães. Rumores sobre novo pacote de auxílio e sobre um reescalonamento da dívida grega já circulavam no mês passado, durante a reunião de primavera do FMI, em Washington. Na ocasião, houve desmentidos tanto de autoridades gregas como de Strauss-Kahn. Não havia hipótese de renegociação nos entendimentos em vigor com o governo grego, segundo comentou o diretor-gerente do Fundo. Ele disse a verdade. Mas um novo acordo poderia ser necessário, se surgissem novas más notícias.
Nas semanas seguintes a crise portuguesa ganhou destaque na imprensa. O governo demissionário do primeiro-ministro José Sócrates acabou pedindo socorro formalmente à União Europeia e também ao FMI. Organizou-se rapidamente um socorro conjunto de 78 bilhões. Nessa terça-feira a Comissão Europeia aprovou o pacote, dando o primeiro passo para a sanção dos 27 países-membros do bloco. Pelo acordo, Portugal se obriga a promover uma série de ajustes macroeconômicos e a realizar reformas importantes para a recuperação de sua competitividade. Se o programa for executado, a economia portuguesa ficará provavelmente mais ágil e mais produtiva do que antes da crise.
O problema português parece equacionado, embora os bancos do país, segundo a Standard & Poor"s, possam precisar de mais ajuda. O ajuste fiscal necessário será mais suave do que o proposto anteriormente pelo governo de Lisboa à União Europeia.
A Espanha, também com sérios problemas fiscais, tem sido tratada com mais otimismo no mercado financeiro. Aparentemente os credores confiam na execução dos arranjos prometidos. Mas qualquer má notícia pode criar ondas de inquietação nos mercados. O início, nesta quarta-feira, de uma greve geral na Grécia pode ser o prenúncio de mais dificuldades para a aplicação do plano de austeridade.
Qualquer novo problema político, neste momento, pode ter custo muito elevado para o país. "Vimos socorrendo (a Grécia) há um ano e vamos continuar fazendo isso", disse a ministra da Economia da França, Christine Lagarde, ao sair de uma conversa com Strauss-Kahn, em Zurique, na quarta-feira.
Nesta altura, também autoridades de peso, como a ministra francesa e o diretor-gerente do FMI, se mostram muito preocupadas com a situação grega. O agravamento da crise já deixou de ser apenas assunto de rumores do mercado financeiro. Será preciso cuidar com rapidez de qualquer novo plano de ajuda, com ou sem renegociação da dívida. Deixar a Grécia afundar será uma derrota política importante para a união monetária. Mas essa é apenas a consequência mais previsível. Muito mais difícil é calcular o estrago no sistema financeiro e na situação dos demais países endividados.
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