terça-feira, 17 de maio de 2011

Editoriais = Folha de S.Paulo - Desaceleração localizada


O desempenho das vendas do comércio varejista em março, o último dado tornado disponível, ficou dentro das expectativas. Não trouxe, porém, o que mais se esperava -uma contribuição clara para reduzir a inflação.
Segundo o indicador que o IBGE denomina de ampliado, por incluir concessionárias de automóveis e motos e lojas de material de construção, o volume de vendas superou em 1,7% o apurado em fevereiro (descontadas as flutuações típicas de cada mês). Na mesma comparação, o varejo restrito (que exclui os segmentos listados acima) teve expansão de 1,2%.
É notório que as leituras mais recentes da Pesquisa Mensal do Comércio foram perturbadas pelo fato de que, atipicamente, o feriado do Carnaval foi comemorado não em fevereiro, mas em março. Vale a pena, por isso, concentrar a análise da evolução das vendas nos resultados do primeiro trimestre considerado como um todo.
O volume de vendas do varejo ampliado teve no período, na comparação com o quarto trimestre de 2010, crescimento de 0,8%. Isso marcou uma desaceleração, pois as vendas tinham crescido 3% do terceiro para o quarto trimestre do ano passado.
O segmento do varejo que mais contribuiu para essa desaceleração foi o das concessionárias de automóveis. Essa constatação não surpreende, pois as medidas que o governo vem adotando desde dezembro com o objetivo de moderar o ritmo de crescimento do crédito afetaram com especial intensidade os bancos das montadoras.
O aumento da proporção do valor do carro a ser pago como entrada, a redução do número de parcelas mensais e o aumento da taxa de juros embutida nos contratos de venda a prazo espantaram uma parcela dos consumidores.
No caso dos demais bens de consumo duráveis, no entanto, foi bem mais limitada a contenção das vendas induzida pelas medidas adotadas pelas autoridades. Essas iniciativas abarcam, vale lembrar, além das medidas ditas macroprudenciais (limitadoras do volume de recursos que os bancos têm à disposição para emprestar), também os sucessivos aumentos da taxa de juros básica (Selic).
A desaceleração das vendas, além de desigual entre os segmentos, tem se revelado insuficiente para conter o fôlego da inflação.
Por isso, continua forte a expectativa de que novos aumentos da Selic, e mesmo outras medidas voltadas a desacelerar o crédito, virão nas próximas semanas.

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