terça-feira, 24 de maio de 2011

Editorial Econômico = O Estado de S.Paulo - No contexto atual, redução do consumo é improvável



Os dados do comércio varejista ampliado do primeiro trimestre mostram um crescimento de 10,3%, em relação ao mesmo período de 2010 - sinal da robustez do consumo doméstico, que leva os economistas a pensar em que o Banco Central (BC) terá dificuldade em reverter o rumo do consumo nos próximos meses, apesar das medidas macroprudenciais.

É provável que abril acuse um pequeno recuo, em razão apenas, talvez, da necessidade das famílias de economizarem um pouco para o Dia das Mães. Quando se examinam as perspectivas para o atual exercício, a conclusão é de que será difícil conter o crescimento do consumo doméstico.

Certamente, a elevação dos preços é um fator de limitação do consumo. Porém, tudo indica que chegamos a um patamar em que os preços tendem a se estabilizar em razão da queda das cotações das commodities, desde que o governo mantenha sua austeridade nos gastos públicos, o que não dá muita tranquilidade.

Existe, todavia, uma série de fatores que levam a prever que a renda das famílias não vai diminuir, isto é, que a melhora do poder aquisitivo continuará a fazer pressões sobre a demanda interna.

Parece existir um consenso de que este ano será marcado por um aumento dos investimentos privados, embora seja de esperar que os do setor público não terão o mesmo ritmo. Os investimentos privados virão principalmente do aporte dos capitais estrangeiros, cujo nível parece estar particularmente alto este ano. Por definição, investimentos são caracterizados como despesas imediatas, enquanto o aumento da oferta de bens ou serviços aparece somente depois de alguns meses.

Essa situação se percebe pelo aumento da mão de obra empregada, embora a produção industrial pareça estável. A esse aporte de capital, que deverá surtir efeito no ano inteiro, temos de somar os efeitos dos reajustes salariais, que deverão ser efetivos no segundo semestre do ano e que serão negociados num clima de alta de preços em relação ao ano anterior.

A tentativa do governo de conseguir uma desvalorização do real até agora não teve grande efeito, o que significa que os produtos importados continuarão com preços atrativos.

A redução do crédito parece ter surtido efeito nas vendas a prestações, porém,além do uso dos cartões de crédito, registrou-se uma elevação do uso do cheque (inclusive cheque pré-datado), que procura amenizar as restrições impostas pelo BC.

Somente uma redução da massa salarial poderia afetar a economia.

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