sexta-feira, 23 de março de 2012

'Apressa-te devagar' - Maria Helena Rubinato


 


Maria Helena Rubinato

Parece que foi Augusto, o imperador romano, quem disse isso: Festina Lente. Não corra demais, não queime etapas, não pule as diversas fases do caminho que leva ao seu objetivo. Vá com pressa, mas devagar...
Rápido não é apressado.
Na cozinha eu já sabia da justeza desse conselho. Na pintura também. E na costura, no bordado? Mais ainda. Novidade mesmo, e comprovada agora, foi descobrir que também em política apressar-se devagar é o segredo do sucesso.
Dilma saiu do vácuo político para a presidência da República deste país que não é para principiantes. Aliás, foram as águas de março que caíram esta noite com raios e trovões sobre minha casa que me lembraram dessa figura maravilhosa, que nos conhecia tão bem.
O que será que Tom diria hoje ao nos ver nesse pandemônio em que nos meteram?
Quer dizer, em que nos metemos, nós, os eleitores?
Parte do Brasil votou na “mulher do Lula” – que garantia as benesses que fluíam das algibeiras do Poder Central – ; outra parte votou no terceiro mandato do Lula. Estava feliz com ele, pra que trocar?
E quem não estava satisfeito não deu seu voto para essa aventura: jogar a ex-ministra no colo de uma coalizão de não sei quantos partidos, liderados por uma das mais experientes ninhadas de ratos charmosos que o Brasil já viu.
(Abro um parênteses para me referir à deliciosa crônica publicada neste blog: Ratos Charmosos, de Luis Fernando Veríssimo. Tenho certeza que ele não vai trocar de mal comigo por isso).
Não, não estou contando a história da menina do chapeuzinho vermelho. Dilma sabia quem era o lobo. Mas uma coisa é lidar com o bicho tendo ao lado o caçador muito bem equipado para a caça, e outra é enfrentá-lo sozinha e de mãos nuas.
Não diria que Lula foi cruel com sua herdeira porque ele não sabia da infame peça que o destino lhe preparava. Mas foi imprudente e Dilma também. Ambos sabem que o homem põe e Deus dispõe.
O fato é que constatamos que não dá para queimar etapas em política. Tem que subir os degraus da escadaria do Poder um a um. Como o Lula fez. Veio vindo, devagar e sempre, e aprendeu muito.
Se ao chegar ao topo se entusiasmou e achou que estava no Olimpo e não no Palácio do Planalto, não foi por culpa do ritmo que imprimiu à sua caminhada.
Mas isso já é tema para outro ditado e outra sexta-feira.
 no Blog do Noblat

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