domingo, 31 de outubro de 2010

Marina defende 'terceira via política' no Brasil



MARTA SALOMON - Agência Estado
Minutos depois do anúncio do resultado das eleições, a senadora Marina Silva (AC) reiterou os planos de trabalhar por uma terceira via política no país, alternativa às lideranças do PT e do PSDB, que governam o Brasil desde 1995. "É um trabalho árduo, a terceira via é um embrião ainda, mais é maior do que as análises mais apressadas são capazes de mostrar", observou a senadora.
Marina Silva parabenizou Dilma Rousseff pelo resultado e desejou mais do que "boa sorte": "Desejo a ela a simplicidade das pombas e a sagacidade das serpentes", disse, numa rápida entrevista hoje à noite, em Brasília. A senadora disse que telefonaria depois à primeira presidente eleita para cumprimentá-la e reiterou mais uma vez a posição de independência, adotada pelo PV no segundo turno das eleições.
"Aqueles que perderam têm de desejar boa sorte e contribuir para corrigir os erros e evitar que eles aconteçam, de forma independente", acenou a senadora. Questionada sobre o apoio de deputados do PV ao novo governo no Congresso e até uma eventual participação em cargos, Marina desconversou e disse que o tema não foi discutido pelo partido. "O referencial para apoio no Congresso ou outra coisa será sempre programático", disse.
De Dilma, Marina espera, eleita por uma parte do eleitorado, governe para "todos". Marina aproveitou a ocasião para lembrar os quase 20 milhões de votos que obteve no primeiro turno das eleições e que ajudaram a levar a disputa para o segundo turno. Segundo a senadora, os eleitores mandaram "um recado, que precisa ser lido com cautela por todos nós".
O recado consistiria em mostrar um certo cansaço com a falta de propostas durante o debate eleitoral. Marina manteve reserva sobre seu voto no segundo turno. "Vou continuar usufruindo do benefício do voto secreto", disse. E insistiu em que a posição de independência adotada pelo PV e que liberou integrantes do partido a apoiar Serra ou Dilma foi a melhor, na sua opinião.
Mandato
A dois meses de terminar seu mandato no Senado, Marina disse que pretende ainda atuar no Congresso para evitar mudanças no Código Florestal, lei que estabelece o porcentual de áreas de proteção ambiental nas propriedades rurais do país. A senadora também pretende apresentar novas propostas antes do fim do mandato.
Depois de fevereiro, São Paulo passará a ser uma base importante na nova agenda de Marina. Vai se dividir entre o PV e o comando do Instituto Democracia e Sociedade, para tentar viabilizar uma terceira via política no país em um novo teste das urnas. Sobre a possibilidade de uma nova candidatura ao Planalto, em 2014, Marina esquivou-se: "Sempre digo que não fico planejando qual é a próxima eleição de que vou participar", falou. 


Serra faz discurso no comitê tucano em São Paulo



Andre Mascarenhas
O candidato derrotado à presidência José Serra (PSDB) discursou na noite deste domingo no comitê tucano.
Essa é a segunda vez que Serra disputa – e perde – a Presidência para um candidato petista. Com cerca de 45% dos votos válidos, o tucano encerra sua participação nas eleições deste ano após contrariar todos os institutos de pesquisas e levar a disputa para o segundo turno.
Correligionários de Serra que acompanharam a apuração dos votos no QG tucano lamentaram a derrota. Apesar de as últimas pesquisas apontarem um cenário desfavorável para o prersidenciável, havia entre membros do partido a expectativa de que o resultado das urnas poderia ser surpreendente.
Veja como foi momento a momento:
22h45 – Serra diz que enxergar uma vitória na construção de um “campo político em defesa da democracia, da liberdade e das grandes causas sociais e econômicas”. O tucano agrgadece os jovens e diz que “aos que nos acham derrotados, eu digo que estamos apenas começando uma luta de verdade”. “Vamos dar a nossa contribuição como partidos, como indivíduos, como parlamentares e como governadores”, diz. “Minha mensagem de despedida nesse momento não é um adeus, mas é um até logo. A luta continua, viva o Brasil”, diz Serra, emocionado. O tucano é novamente muito aplaudido e recita os últimos versos do hino brasileiro.
22h42 – Serra agradece os milhões de ”militantes que defenderam minha candidatura na internet e nas ruas”. O candidato diz ter recebido muita energia nas ruas, e que agora não sabe onde irá gastalas. “Ao lado desses 43,6 milhões de brasileiros que votaram em mim, nós elegemos 10 governadorres em todo o Brasil”, diz Serra. Ele agradece um em especial, Alckmin, “que se empenhou mais em minha campanha do que na dele”. Novamente,  é muto aplaudido.
22h39 – “Nós recebemos com humildade o resultado”, diz Serra, que afirma esperar que “Dilma sirva bem” o País. “Disputei com muito orgulho a Presidência da República. Quis o povo que não fosse agora, mas quero dizer que sou muito grato os 44 milhões de brasileiros que votaram em mim”, diz. Serra é muit aplaudido.
22h37 – Com o semblante grave, Serra tem ao seu lado a mulher, Mônica, e o governador eleito, Geraldo Alckmin. Assessores do tucano mexem nos microfones e é criticado pelos cinegrafistas.
22h34 - Serra vem acompanhado pelas principais lideranças que apoiaram sua candidatura. O presidente do DEM, Rodrigo Maia, o presidente do PPS, Roberto Freire, e o presidente do PSDB, Sérgio Guerra. Kassab, Andrea Matarazzo, José Henrique Reis Lobo e Índio da Costa também marcam presença.
22h32 – “Vamos receber o nosso grande líder José Serra.” É assim, e muito aplaudido, que o candidato derrotado tucano é recebido no comitê tucano.
22h12 - Já se encontram no QG tucano o candidato a vice de Serra, Índio da Costa, o senador eleito por São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira, o governador eleito de SP, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab.

Em discurso, Dilma se compromete a estender a mão para a oposição; veja na íntegra



'Reforço o meu compromisso: a erradicação da miséria e a criação de oportunidade para todos os brasileiros e brasileiras', afirmou a nova presidente brasileira

Gustavo Uribe - Agência Estado
SÃO PAULO - A presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, destacou há pouco, no primeiro discurso como nova mandatária do Palácio do Planalto, que em seu futuro governo estenderá a mão para a oposição, destacando que, da sua parte, não haverá discriminação contra políticos ou governos de siglas que não sejam aliadas. "Estendo minha mão a eles. Da minha parte, não haverá discriminação, privilégios ou compadrios", garantiu.
Em tom conciliatório, após um segundo turno inflamado, a petista afirmou que pretende honrar os compromissos estabelecidos nos governos anteriores, dando continuidade às conquistas alcançadas no Brasil. A petista ressaltou que a meta mais ambiciosa de seu futuro governo será erradicar a fome no País. "Reforço o meu compromisso: a erradicação da miséria e a criação de oportunidade para todos os brasileiros e brasileiras", afirmou.
Nos 25 minutos de discurso, a candidata destacou que os brasileiros não podem descansar enquanto houver fome e o crack "reinar" no Brasil. "A erradicação da miséria é uma meta que assumo, mas que peço humildemente o apoio de todos", afirmou. Ao lado de seu vice, deputado federal Michel Temer (PMDB), a presidente eleita reconheceu que ambos terão um "duro trabalho" para qualificar o desenvolvimento econômico do País.
A petista destacou que a crise financeira mundial ainda se perpetua nas economias desenvolvidas e que o Brasil não conta atualmente com a ajuda "da pujança das nações desenvolvidas". "É preciso reconhecer que teremos grandes responsabilidades num mundo que ainda enfrenta os desafios de uma crise financeira mundial", afirmou. "Eu estou longe de dizer com isso que pretendemos fechar o País ao mundo, muito pelo contrário", ponderou.
Ela destacou ainda que pretende enfrentar a guerra cambial e a inflação e defendeu a criação, no plano multilateral, de regras que evitem a alavancagem e a disputa excessiva entre os países. "Atuaremos firmemente nos fóruns internacionais", garantiu a petista e, em seguida, prometeu fazer todos os esforços pela " melhoria dos gastos públicos" e pela "simplificação da tributação". Mas, ponderou: "Recusamos as visões de ajustes que recaem sobre programas sociais, serviços fundamentais e sobre os investimentos que sejam bons para o Brasil."
Dilma Rousseff prometeu também zelar em seu futuro governo pela poupança pública, pela meritocracia na gestão pública e pelo aperfeiçoamento de todos os mecanismos públicos. "Construirei modernos mecanismos de aperfeiçoamento econômico", garantiu. Ela pregou ainda a estabilidade econômica e o respeito aos contratos firmados pelo governo federal. Ela garantiu ainda que trabalhará pela aprovação, no Congresso Nacional, do projeto de lei que cria um Fundo Social por meio dos recursos extraídos da exploração da camada do pré-sal.
Veja a seguir o discurso da nova presidente do Brasil na íntegra: AQUI

PSDB será o partido com o maior número de governadores no país



Partido é derrotado na Presidência, mas conquista oito estados.
PSB é o segundo partido com mais eleitos: seis.

Do G1

O PSDB governará oito estados do país a partir de 2011. É o partido com o maior número de eleitos para os Executivos estaduais. Com isso, o partido volta a liderar o ranking de representantes, passando o PMDB.


O PSB é o segundo partido com o maior número de eleitos. São seis governadores da sigla (três eleitos no segundo turno).
O resultado para o PSDB é importante após o partido sair derrotado na eleição presidencial e perder cadeiras tanto na Câmara dos Deputados como no Senado.
Na Câmara, foram 53 deputados federais eleitos (contra 66 vitoriosos em 2006). No Senado, o partido perdeu cinco representantes (terá 11 senadores em 2011) e foi ultrapassado pelo PT.
O PT e o PMDB comandarão cinco estados cada um; o DEM, dois; e o PMN, um.

Beto Richa "Não farei oposição", disse Richa, em nota oficial divulgada nesta noite. "Quem faz oposição é o partido no Congresso Nacional, que é o local adequado para esse tipo de posicionamento"


DIMITRI DO VALLE na Folha.com

Ao comentar o resultado da eleição presidencial, o governador eleito do Paraná, Beto Richa (PSDB), disse que "espera trabalhar em parceria com o governo federal e que o País continue avançando".
"Não farei oposição", disse Richa, em nota oficial divulgada nesta noite. "Quem faz oposição é o partido no Congresso Nacional, que é o local adequado para esse tipo de posicionamento", disse o tucano no comunicado. "O papel do Executivo é governar e buscar parcerias com outras esferas de governo."

Ex-prefeito de Curitiba (2005-2010), Richa lembrou do cargo anterior para sustentar suas declarações defendendo a "parceria".
"Na Prefeitura de Curitiba, era de um partido de oposição aos governos federal e estadual, mas o trabalho não deixou de ser feito", disse Richa.
O tucano já havia elogiado o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a campanha a governador ao classificá-lo de "bom parceiro".
AGRADECIMENTO
O governador eleito do Paraná também agradeceu pela "vitória" obtida no Paraná pelo candidato derrotado do PSDB à Presidência da República, José Serra. Ele teve 55,4% dos votos no Estado.
"Fico muito agradecido aos paranaenses, pois conseguimos mais que dobrar a votação do primeiro para o segundo turno."
Para Richa, a campanha presidencial para Serra foi difícl por causa dos altos índices de aprovação de Lula. "Sabíamos que seria uma campanha muito difícil diante da popularidade do presidente Lula, principalmente no Norte e no Nordeste. Infelizmente, a sociedade brasileira não entendeu bem as propostas do Serra."

Por um país sem remendos - Mary Zaidan




 Seja qual for o resultado das urnas, chegamos ao dia decisivo das eleições 2010 com amargor na boca. Como uma avalanche, este segundo turno saiu do controle de todos: candidatos, marqueteiros, pesquiseiros. Chegou a produzir um efeito inédito: nunca antes neste país o número de indecisos aumentou tanto na última semana antes do pleito.
E isso não aconteceu por acaso.
Embates, diferenças, disputas são sempre cativantes, mobilizadoras. Sem elas, qualquer eleição vira um porre. Mas esta última etapa ultrapassou todos os limites. Foi agressiva, completamente despolitizada, baixa. Debate algum teve profundidade maior do que a de um pires, mesmo quando os temas eram relevantes e essenciais para a vida das pessoas, para a economia do país.
Jogou-se fora uma grande chance, quiçá irrecuperável.
O Brasil é useiro e vezeiro em desperdiçar oportunidades. Faz isso sistemática e insistentemente, tamanha a distância entre o que quer quem está no poder e o povo, seja ele rico, pobre ou de qualquer fatia social intermediária. Os brasileiros que, direta ou indiretamente, mas sempre regiamente, recolhem impostos para financiar o poder.
Isso vale para todos os poderes, sem exceção. Fosse o parlamento cioso de suas responsabilidades, leis como a da Ficha Limpa não acabariam sub judice. Mas a maioria das suas excelências do Legislativo funciona só em nome de seus áulicos interesses, além, é claro, de nada se importar em serem, vez sim, outra também, paus mandados do Executivo.
Por sua vez, o Executivo, que sob a batuta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se coloca acima de todos e de tudo mais, há muito abandonou a tarefa de administrar o país para se transformar no comitê central da campanha Dilma Rousseff.
E Lula, que faz gato e sapato das leis, é uma pedra a mais para o Judiciário, já atormentado pela lassidão do Legislativo.
Pela omissão dos demais poderes, a nossa Justiça, pobre coitada, tem de dar respostas a tudo que o país não consegue resolver, e ainda é açoitada por aqueles que ignoram, ou fingem ignorar, que a ela cabe tão somente o zelo à Constituição e ao direito do cidadão. Mas querem que ela conserte todos os remendos mal alinhavados.
Se o dócil Legislativo é falho (e isso ocorre com freqüência além do razoável), Lula, aquele que tem a caneta e o poder de sanção das leis, falha ainda mais. A lei do Ficha Limpa é apenas um exemplo: a assessoria jurídica do Planalto sabia, desde sempre, que a questão pararia no Supremo. Jogou pra lá, tirando o ônus do colo de Lula, que não podia contrariar o público, defensor absoluto de punir a eleição de bandidos.
E o mesmo Lula, macho dos palanques de campanha, não teve colhões para desempatar o STF. Por conveniência, continua adiando a nomeação do 11º ministro para a Suprema Corte. Com isso, despeja sobre ela contas e contas de impopularidade.
Os candidatos e seus torcedores se perderam no jogo pelo jogo, na intolerância, no xiitísmo religioso, lançando para longe a chance de discutir com seriedade aquilo que o país de verdade quer e necessita. Agora, o eleito terá de se desnudar, ou, pelo menos, de vestir um traje menos remendado. Terá de abandonar de vez as coisas mal costuradas que, se escondem os buracos, nem de longe conseguem evitar o esgarçar do tecido.
Afinal, governar não é crer. É  respeitar, garantir e fortalecer as instituições, fazer e responder às demandas de quem vive, trabalha e sustenta o país.
Bom voto a todos.

Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan

Para Beto Richa, MG, SP e PR podem dar vitória a José Serra


Governador eleito do Paraná, Beto Richa (PSDB) vota e diz que Paraná, São Paulo e Minas Gerais podem dar a vitória ao presidenciável tucano José Serra. Foto: Roger Pereira/Especial para Terra


ROGER PEREIRA
Direto de Curitiba no Terra 
O governador eleito do Paraná, Beto Richa (PSDB), disse, ao votar na manhã deste domingo, que Paraná, São Paulo e Minas Gerais podem dar a vitória ao presidenciável tucano José Serra. Acompanhado de sua mulher, Fernanda Richa, e do vice-governador eleito, Flávio Arns (PSDB), Beto votou por volta das 10h20 no Colégio Amancio Moro, no bairro Jardim Social, em Curitiba.
"Nossas pesquisas internas, antes do debate, apontavam uma vantagem de seis pontos para a candidata do PT. Confiamos na possibilidade de aumentarmos a vantagem aqui e nos dois maiores colégios eleitorais do País para tirar essa diferença. Sabemos da capacidade de influência do Aécio Neves, em Minas Gerais, e do Geraldo Alkmin, em São Paulo, para conseguirmos essa virada. E aqui temos certeza que a diferença será muito maior que no primeiro turno", disse.
Richa afirmou ainda que os erros das pesquisas eleitorais em todo o País deram razão à estratégia de sua campanha, que impugnou todas as pesquisas nas três últimas semanas de campanha antes do primeiro turno no Paraná.
"As pesquisas prejudicaram muitos candidatos. Nos Estados que visitamos nesse segundo turno, sempre nos perguntavam como conseguimos impugná-las aqui no Paraná. Foi uma estratégia acertada de minha equipe jurídica", disse. "Não sou contra as pesquisas, mas acho que os institutos têm que reavaliar suas metodologias pois estão errando feio, como fizeram na eleição nacional, que indicavam derrota nossa no primeiro turno. Pesquisa não pode substituir a vontade do eleitor", disse.
Ele disse ainda que a vitória de Serra seria "extraordinária" para o Paraná por conta do "carinho, respeito e identificação que o candidato tem com o nosso Estado. Teriamos as portas abertas no Palácio do Planalto, o que iria nos ajudar muito", disse. "Se não for o Serra, teremos mais trabalho. Mas conseguimos, na prefeitura de Curitiba, ótimas parcerias com o governo federal do PT".

Presidente do PT, Dutra se diz 'ressabiado' porque pesquisas 'erraram muito'


Antonio Carlos Garcia, de Aracaju (SE) no Estadão

O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, disse agora há pouco, em Aracaju, que ainda esta “ressabiado” com os resultados da pesquisas eleitorais que “erraram muito”, no primeiro turno, por isso vai aguardar o resultado das urnas deste domingo, 31, à noite. Questionado se vai ocupar algum ministério, caso a petista Dilma Roussef seja eleita, Dutra disse que a candidata determinou que não se fizesse nenhum comentário a respeito da composição de governo, “até em respeito ao eleitor”.
“Na hora em que se confirmar a vitória de um lado ou para outro, é que se começar a pensar em formação de governo. Não há nenhuma definição da candidata para isso, no momento”, completou Dutra.

Cartaz de candidatos traz nome de Dilma duas vezes




EDUARDO RODRIGUES - Agência Estado
Os cartazes com os nomes dos candidatos à Presidência da República que concorrem ao segundo turno, afixados nas sessões eleitorais de todo o País, trazem duas vezes o nome da candidata do PT, Dilma Roussef, enquanto o nome do candidato do PSDB, José Serra, só aparece uma vez.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a impressão dos cartazes é de responsabilidade dos tribunais regionais. De acordo com o TRE do Distrito Federal, a duplicação ocorre porque Dilma registrou dois nomes junto à Justiça Eleitoral, um com nome completo e outro com o nome de campanha, que é o que aparece na urna eletrônica. Já Serra registrou apenas um nome, e por isso só é citado nos cartazes uma vez. 

Serra confirma favoritismo no Japão



Comprecimento às urnas foi maior que no primeiro turno e Serra foi o mais votado novamente

Japão , Tokyo / Marcello Sudoh/IPC

O candidato do PSDB José Serra confirmou seu favoritismo entre os brasileiros residentes no Japão obtendo cerca de 70% dos votos válidos no segundo turno das eleições para a presidência da república.
Apurados e divulgados os votos de Tokyo, Nagano, Aichi, Shizuoka, Toyama, Gunma, Ibaraki e Mie, José Serra obteve 4.495 votos contra cerca de 1.638 de Dilma Roussef (PT). Os votos em branco somaram 190 e nulos cerca de 120, totalizando pouco mais de 6.470 votantes.
Se comparado ao resultado de primeiro turno, Serra recebeu cerca de 1.200 votos a mais e Dilma perdeu quase 300, contrariando a tendência de voto no Brasil. Outro fato importante foi um comparecimento maior do eleitorado às urnas que no primeiro turno.
O vice-ministro parlamentar das Relações Exteriores, Ikuo Yamahana, esteve visitando as seções de votação no consulado do Brasil, em Tokyo, acompanhado do embaixador do Brasil, Luiz Augusto Castro Neves.
Yamahana perguntou sobre o processo de votação eletrônica e quem eram os brasileiros que trabalhavam nas mesas de votação, atendendo os eleitores. O embaixador Castro Neves explicou como acontecia o voto eletrônico e disse que os mesários viviam no Japão e eram convocados pela Justiça Eleitoral brasileira para o atendimento aos eleitores.
O parlamentar japonês ficou impressionado ao saber que a eleição presidencial por urnas eletrônicas no Japão acontece desde 2002.
Para saber como fazer a justificativa à justiça eleitoral consulte os links à direita.

Se vencer nos Estados onde lidera a disputa, oposição governará metade dos eleitores




SILVIO NAVARRO na Folha.com

Se os resultados das últimas rodadas de pesquisas se confirmarem nas urnas, os dois principais partidos de oposição no plano federal --PSDB e DEM-- administrarão 52,2% do eleitorado do país a partir de janeiro.
De acordo com os levantamentos, dos nove locais (oito Estados e o DF) onde as disputas serão resolvidas no segundo turno, apenas no Amapá foi registrada virada.
Lá, Camilo Capiberibe (PSB) ultrapassou Lucas Barreto (PTB) na fase final.

Segundo as pesquisas, as disputas mais acirradas seguem em Goiás e Alagoas. Em ambos Estados, o cenário é de empate técnico.
Em Goiás, Marconi Perillo (PSDB) tem vantagem numérica sobre Iris Rezende (PMDB), dentro da margem de erro. Em Alagoas, a leve dianteira é do atual governador Teotônio Vilela (PSDB) contra Ronaldo Lessa (PDT).
No melhor cenário para os tucanos, o partido terminaria como o campeão em eleitorado governado: 64,2 milhões de eleitores --47,3% do total.
Ainda que ocorram viradas em Goiás e Alagoas, o patrimônio tucano não terá alterações significativas em razão das vitórias no primeiro turno nos dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas, e no Paraná.
CRESCIMENTO
Os tucanos tendem a crescer em comparação a 2006, quando conquistaram 43% do eleitorado.
A fatia da oposição ainda aumenta se somada as vitórias no turno inicial do DEM (4,9%): Santa Catarina e Rio Grande do Norte.
De acordo com as pesquisas, quem deve encolher é o PMDB, que governará para 15,3% do eleitorado, ante 22,8% em 2006. A baixa se explica pelo fim da gestão de Roberto Requião no Paraná --5,5% do país.
O PT deve fechar a eleição com tamanho similar ao do PMDB: 15,7%. O percentual representa crescimento discreto em relação a 2006 (13,5%), alavancado pela vitória de Tarso Genro no Rio Grande do Sul.
Esse número pode ser melhor se a governadora Ana Júlia virar a eleição no Pará contra Simão Jatene (PSDB).
Proporcionalmente, quem também pode crescer em comparação a 2006 é o PSB --de 10,5% para 14,8%.
A sigla concentra força na região Nordeste, onde poderá controlar até quatro Estados: Piauí e Paraíba, com disputas ainda em aberto, e Pernambuco e Ceará, já conquistados. O PSB ainda concorre no Amapá e venceu no Espírito Santo.

Mais de 15 mil eleitores já votaram no exterior



Do Bem Paraná no Fábio Campana
Estão incluídos nos dados apenas as seções que já podem ter encerrado seus trabalhos e foram desconsideradas aquelas nas quais a votação ainda está em andamento
Pelo menos 15,4 mil eleitores que vivem em outros países já haviam votado por volta das 8 horas de hoje, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Estão incluídos nos dados apenas as seções que já podem ter encerrado seus trabalhos e foram desconsideradas aquelas nas quais a votação ainda está em andamento.
O processo de votação começou às 17 horas (horário de Brasília) de ontem, com os eleitores brasileiros que moram em Wellington, na Nova Zelândia. Em seguida, votaram os eleitores que vivem na Austrália, no Japão e na China. Os últimos a votar serão os brasileiros que residem em São Francisco, nos Estados Unidos. Lá a votação começa às 13 horas (horário de Brasília) de hoje.
Os mais de 200 mil eleitores cadastrados pela Justiça Eleitoral no exterior – divididos em 154 municípios de todo o mundo – votarão nos cargos de presidente e vice-presidente da República. A votação ocorre das 8 às 17 horas, no horário local. O maior colégio eleitoral brasileiro no exterior fica nos Estados Unidos, onde há mais de 66 mil eleitores cadastrados em dez cidades. As maiores concentrações estão em Nova York (21.076) e Boston (12.330).
Outro país com um número significativo de eleitores é Portugal: a capital, Lisboa, registra mais de 12 mil brasileiros aptos a votar; em Porto, são cerca de 10 mil. Na Itália, apenas a cidade de Milão contabiliza mais de 11 mil eleitores. Os últimos países a encerrar a votação, também em relação ao horário de Brasília, são Canadá (Vancouver) e Estados Unidos (Los Angeles e São Francisco), às 22 horas de hoje.
Quem reside fora do país está sujeito a penalidades impostas pela lei brasileira, caso não vote ou justifique a ausência. Uma delas – e que pode complicar muito a vida de quem mora fora do Brasil – é a impossibilidade de renovação do passaporte, enquanto a situação junto à Justiça Eleitoral não for regularizada.

Na China, brasileiros elegem Serra com 81,4% dos votos



Da Folha.com no Fábio Campana
Sem nenhum incidente, 278 brasileiros compareceram às três urnas instaladas na China para votar no segundo turno presidencial.
O tucano José Serra venceu com folga: 215 votos, contra apenas 49 para a petista Dilma Rousseff. Fecham a conta 14 votos brancos e anulados. Em porcentagem, a vitória tucana foi de 81,4%, contra 18,6% para a candidata governista.
“Só não votei na bruxa”, brincou a cozinheira paulista Elisabeth dos Santos, 61, a última a votar em Pequim, em alusão à festa de Halloween.
Por causa do fuso horário, a votação na China terminou antes de a votação começar no Brasil: 17h em Pequim, 7h em Brasília.
A votação teve uma abstenção alta. Apenas 55,1% dos 504 eleitores inscritos na China saíram de casa para votar.
O maior “colégio eleitoral” fica em Xangai, com 330 eleitores inscritos, seguido por Pequim (131) e Dongguan (37).

Beto Richa vota às 10h


O governador eleito do Paraná, Beto Richa, votará às 10h deste domingo no Colégio Estadual Amâncio Moro, em Curitiba. Beto estará acompanhado do vice-governador Flávio Arns.

Danuza Leão: É hoje



no Blog do Jam
Que Deus proteja o Brasil. Quando novo presidente é eleito, tudo muda, para melhor ou para pior

BOA SORTE ao eleito de hoje.
Se for aquele em quem votei, ótimo; se não for, boa sorte assim mesmo, e que Deus proteja o Brasil -e nos proteja.
Hoje à noite, na hora em que Lula puser a cabeça no travesseiro, vai cair a ficha: agora é só uma questão de tempo, e pouco tempo.
Ele se acostumou com o sucesso e a popularidade, mas vai ter também que se acostumar a não ser mais presidente da República, só que não vai ser assim tão fácil. Para isso é preciso ter sabedoria e equilíbrio, qualidades que definitivamente o presidente não tem.
Lula sonhou alto; pretendia ser secretário-geral da ONU, pretendia que o Brasil fizesse parte do Conselho de Segurança, pretendia ganhar o Nobel da Paz, quis resolver o confronto no Oriente Médio, foi chamado por Obama de "o cara"; começou a se achar dono do mundo, meteu os pés pelas mãos e conseguiu, na hora de sair, ficar mal na foto. Bem mal.
Qualquer que seja o resultado de hoje, temos boas razões para comemorar. Não vamos mais ver na TV Lula andando com o microfone na mão, como se estivesse num auditório, dizendo "nunca antes nesse país", comparando tudo que acontece a um jogo de futebol, sem um pingo de graça.
Não vamos mais ver Marisa Letícia vestida de verde e amarelo nas comemorações da Independência ou de vermelho em carreata eleitoral, saudando o povo com os braços para o alto, como se fosse uma miss; sua voz, ninguém jamais ouviu, e seu único ato foi fazer um canteiro com uma estrela vermelha no jardim do Palácio da Alvorada. Que foi retirada, por sinal.
O Brasil, que já tinha ficado bem mal educado nos tempos de Collor, ficou ainda menos educado depois dos oito anos de Lula. A falta de cerimônia, os péssimos modos, a maneira de se dirigir a seus adversários, o pouco caso com que atropelou as leis eleitorais; dizer inverdades, agindo como se os fins justificassem quaisquer meios, e que a impunidade é lei. Tudo foi um péssimo exemplo.
Quando um novo presidente é eleito, tudo muda - para melhor ou para pior. Penso em Cristina Kirchner, que deve estar passando por maus momentos, em todos os sentidos. Como fará para governar o país, sem seu marido ao lado para encarar os problemas, maiores ou menores?
É o perigo de ser eleito/a um candidato/a que precisa de quem o dirija na hora do aperto, para que o país não fique à deriva. Já pensaram se a mulher de Joaquim Roriz vence a eleição no Distrito Federal e seu marido morre? Antes de votar, há que se pensar em tudo, até no que parece impossível poder acontecer. E se acontecer?
Lula deve estar cansado, merece umas férias, e será recebido com festa na Venezuela, em Cuba e também no Irã.
Vai, Lula, você merece: nós também estamos muito cansados de você.
PS - Não há mais o que falar sobre eleição; então, depois de votar, passe numa livraria e compre o livro "Contra um Mundo Melhor", de Luiz Felipe Pondé, editora Leya. Tive dificuldade em alguns trechos -difíceis para quem não tem uma grande cultura-, por isso aconselho a deixá-lo na mesa de cabeceira, pegar de vez em quando, abrir em qualquer página e reler. É uma leitura perturbadora, que nos faz pensar, o que fazemos pouco.
Dê a você essa chance, a de pensar. Juro que não dói.

Estrangeiros devem levar 60% das encomendas do pré-sal



O Globo

As empresas estrangeiras devem ficar com US$ 240 bilhões das encomendas de US$ 400 bilhões que o setor de petróleo vai realizar no pré-sal nos próximos dez anos, o que representa 60% dos investimentos previstos no período. A conclusão é de um estudo encomendado pela Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), segundo matéria de Bruno Villas Bôas, publicada na edição deste domingo do GLOBO. Bens e serviços para plataformas e sondas, por exemplo, serão fornecidos basicamente por empresas de países como EUA, Noruega e China.
O estudo da consultoria Booz & Company, que teve acesso ao cadastro de fornecedores da Petrobras e durante oito meses fez uma radiografia do mercado, coloca em xeque estatísticas do governo federal sobre o setor, que apontam para uma participação de 61,4% da indústria brasileira em projetos de exploração e produção de petróleo. Mesmo a estatística oficial, no entanto, tem encolhido: essa é a menor participação dos últimos seis anos.
O resultado do estudo da Booz foi apresentado ao mercado em agosto, mas o cálculo sobre a presença estrangeira no pré-sal foi excluído do relatório final. O anúncio do estudo foi feito a menos de dois meses do primeiro turno das eleições presidenciais.
- A alegação (para não divulgar) foi que as projeções tinham muitas variáveis e não poderiam ser consideradas - afirmou uma fonte.
Segundo José Velloso, vice-presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), os números são preocupantes porque revelam uma nova estatística, completamente diferente da informada oficialmente pelo governo federal:
- O risco do pré-sal é ser abastecido por estrangeiros - afirma Velloso.
Para o consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), os números oficiais mascaram a necessidade de adoção de incentivos para o setor.
- Não poderia ser verdade que o conteúdo nacional avançou para 60% ou 70% da noite para o dia. O governo está politizando o processo e criando factoides. É preciso tirar o pré-sal do palanque - afirma o consultor.
Pelos cálculos da consultoria, empresas brasileiras podem, no melhor cenário, fornecer metade dos equipamentos e serviços que o pré-sal vai demandar até 2020, o que aumentaria para US$ 200 bilhões a parcela da indústria local. Mas para que isso de fato aconteça, o setor precisaria eliminar gargalos e ser mais competitivo em equipamentos como compressores de ar, válvulas de controle, motores a diesel e gás e sistemas de automação.
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A caminho da desindustrialização?



JORGE J. OKUBARO - O Estado de S.Paulo
Não falta dramaticidade à avaliação do diretor do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini, sobre a situação da indústria no País. "O Brasil está em processo de desindustrialização", diz ele. "Nunca a indústria brasileira enfrentou tanto risco como agora."
Francini apresenta números que impressionam: a indústria já respondeu por 27% do PIB, mas hoje é responsável por 15%. Se o processo continuar, a participação cairá mais ainda, quem sabe até 10% do PIB. "Aí, a situação será ainda mais complicada."
Dirigentes empresariais de alguns setores industriais, como o de produtos elétricos e eletrônicos, já vêm advertindo para os riscos desse processo há algum tempo. Dados preocupantes, de fato, não faltam para sustentar advertências como essas. Eles surgem mensalmente nos boletins do governo sobre o desempenho da balança comercial brasileira.
É crescente e se estende para um número cada vez maior de setores o saldo negativo no comércio exterior da indústria. Embora as exportações cresçam, as importações crescem num ritmo muito mais rápido. Análises divulgadas pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) mostram que, nos três primeiros trimestres do ano, o déficit comercial dos bens tipicamente fabricados pela indústria de transformação alcançou US$ 25,8 bilhões, o maior da história recente.
Se se lembrar que o resultado dos nove primeiros meses de 2005 tinha sido um superávit de US$ 22,4 bilhões, é possível ver a rapidez e a intensidade da deterioração da balança comercial da indústria. Até 2007, o saldo ainda foi positivo. Desde 2008, porém, a balança dos bens típicos da indústria de transformação registra déficit.
Quando se consideram as quatro categorias de produtos definidas pela intensidade tecnológica, o que se observa é que em três delas os resultados estão piorando. E são justamente as categorias que usam mais intensivamente a tecnologia. As exportações cresceram mais do que as importações somente na categoria dos produtos de baixa intensidade tecnológica.
Outra característica preocupante do desempenho da balança da indústria nos últimos meses é a lenta redução da participação dos bens de capital no total das importações e o aumento da fatia dos bens intermediários e de consumo durável. O aumento constante de produtos de consumo sugere que as empresas podem estar importando artigos que eram produzidos internamente, o que tende a resultar, como advertem os dirigentes do setor industrial, em algum grau de desindustrialização.
Será essa uma tendência persistente? As perspectivas para a produção industrial - importada ou doméstica - são animadoras. A massa salarial deverá crescer até 7% em 2010 (bem mais do que o aumento de 3,9% em 2009) e manter um ritmo intenso de alta também em 2011. A demanda por produtos de consumo deverá estimular investimentos, o que, por sua vez, alimentará a indústria de máquinas e equipamentos. Além disso, se realizados os investimentos programados em setores considerados estratégicos, como energia (eletricidade, gás, petróleo), siderurgia e celulose, a produção industrial terá outro forte estímulo.
O temor de parte dos dirigentes industriais é o de que fatias cada vez maiores dessa demanda sejam atendidas por fabricantes do exterior, o que aceleraria a desindustrialização.
A desvalorização do dólar é um dos fatores que fazem crescer as importações e diminuir a velocidade de crescimento das exportações, mas este é um problema internacional para o qual os governos interessados, inclusive o brasileiro, não estão conseguindo encontrar uma solução. Frequentes críticos do governo por causa da valorização do real, os industriais exportadores parecem ter entendido a extensão do problema atual.
Para os exportadores, haveria alguma compensação à desvantagem cambial se itens importantes do chamado custo Brasil fossem cortados, entre os quais a tributação que ainda incide sobre os produtos industrializados, o atraso da restituição dos créditos tributários sobre exportações e a deficiência da infraestrutura.
Eis aí um tema sobre o qual se deveria debruçar o próximo governo com a urgência que o caso requer.
JORNALISTA, É AUTOR DO LIVRO "O SÚDITO - BANZAI, MASSATERU!" (EDITORA TERCEIRO NOME)

Indústria perde espaço para importados no comércio


As prateleiras de supermercados revelam como determinados produtos nacionais estão sendo substituídos por importados


Lu Aiko Otta e Renato Andrade - O Estado de S.Paulo



A desindustrialização, tema explorado pelo candidato do PSDB, José Serra, nas eleições, não é algo que se detecte facilmente nas estatísticas. Dados mostram uma indústria em desaceleração, mas ainda vigorosa. Mas uma simples visita a hipermercados é suficiente para ver que, em certas categorias, os produtos "made in Brazil" são cada vez mais raros nas prateleiras.
Em agosto, a produção industrial do País registrou uma queda de 0,1%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas o resultado acumulado nos oito primeiros meses do ano mostra um avanço na casa dos 14,1%. No mesmo mês, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) registrou aumento de 0,5% nas horas trabalhadas e de 0,8% no emprego, embora o faturamento tenha caído 0,3%.
Outros números, porém, mostram que há algo errado. O consumo do brasileiro cresce a taxas de 8% a 9%, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) se expande a 7%. A diferença é suprida por importados. O comportamento dos saldos comerciais de diversos setores da indústria também reforça essa percepção.
No setor de eletroportáteis, um dos mais afetados pelos importados, muitas marcas conhecidas dos brasileiros já não fabricam mais alguns produtos. Preferem trazê-los do exterior e só comercializá-los.
Comparações. Uma visita a um hipermercado foi suficiente para o Estado constatar que nesse segmento o produto "made in Brazil" é raro. De oito modelos de cafeteiras elétricas à venda, apenas dois eram brasileiros. As três opções de máquinas de café expresso eram chinesas. Também eram originários daquele país os três modelos de sanduicheira elétrica e os três de torradeiras. Entre os 15 ferros de passar, 6 eram brasileiros. Havia dois importados da Malásia e dois de Taiwan. Os demais eram da China. De 17 liquidificadores, 10 eram importados, havendo entre eles um modelo trazido do México.
"Temos evidências importantes que demonstram que há, sim, desindustrialização", diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato. Em 2005, 15% do faturamento do setor vinha dos produtos importados. Em 2010, essa participação está em 20,7%. "Isso demonstra que estamos aumentando e muito a quantidade de produtos acabados importados."
Segundo o vice-presidente de operações para América Latina da Stanley Black&Decker, Domingos Dragone, o processo de desindustrialização no segmento de atuação da empresa foi iniciado em 2005 e vem se acentuando desde então. Há dez anos, 80% dos produtos vendidos pela companhia no mercado local eram fabricados no Brasil. Atualmente esse porcentual é de 50%. A unidade de eletrodomésticos portáteis deve responder por 43% dos R$ 500 milhões de faturamento estimado pela empresa no Brasil em 2010.
Câmbio e os custos envolvidos na fabricação de produtos no País são os fatores apontados pelo executivo para justificar a mudança no perfil de produtos vendidos pela Black&Decker. "Estamos vivendo efetivamente um processo de desindustrialização. A indústria, por mais que se reinvente, tem sérias dificuldades para se manter operando com mínima lucratividade", afirma Dragone.
DVD importado. Hoje, 87% dos aparelhos de DVD comercializados no Brasil são importados. "E esse produto já foi carro-chefe de muitas indústrias grandes daqui", observa o presidente do Sindicato da Indústria de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e similares de Manaus (Sinaees), Wilson Périco. "Não vemos fábricas fechando porque elas estão fazendo outras coisas."
A indústria de iluminação também corre risco de desindustrialização, avalia o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux), Marco Poli. O alto custo de produção no País, os incentivos concedidos pelas economias desenvolvidas à sua indústria e o dólar barato são as ameaças. "Descompassos têm de ser corrigidos para melhor utilizar os potenciais do Brasil", observa.