João Bosco Rabello no Estadão
Em entrevista à rádio Estadão, Antonio Carlos de Almeida Castro, advogado do ministro dos Esportes, Orlando Silva, separa a situação de seu cliente em duas: a política e a jurídica.
Esta última está limitada à denúncia do soldado João Dias Ferreira, que acusa o ministro de receber dinheiro em espécie a título de propina para facilitar contratos na Pasta.
De fato, o soldado tenta incriminar o ministro em crime grave do qual não tem a prova material. E é por isso, que a abordagem do escândalo nos Esportes não deve ter tal denúncia como foco. Mas o todo.
Desde a gestão do atual governador do DF, Agnelo Queiroz (hoje PT, à época PC do B), as denúncias de falcatruas no ministério são fartas e sucessivas. E teve curso na fase de Orlando Silva.
O problema político é a apropriação pelo PC do B do orçamento ministerial através de uma rede de ONGs de filiados e militantes a serviço do partido, com fraudes comprovadas em número suficiente para uma intervenção do Planalto na Pasta.
Como fez nos Transportes, Agricultura e Turismo. No caso presente, o governo adota a estratégia de esgotar todos os recursos para evitar um confronto entre PT e PC do B que pode respingar no governo petista do DF.
Além disso, e com menos influência na demora do Planalto em agir, está a Fifa a cobrar a demissão do ministro indevidamente. Não há santos na Fifa e a cabeça de Silva seria uma demonstração de força da entidade, na visão do governo brasileiro.
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), sob esse ângulo, mais ajuda que atrapalha o Planalto, pois dá o argumento incontornável para que o PC do B se dobre à realidade e absorva a saída de seu ministro sem transformar o episódio numa declaração de guerra ao PT.
Essa a expectativa do Planalto. Que agora poderá dizer ao aliado histórico que fez pelo ministro dos Esportes o que foi possível. Com todo o desgaste que isso representou para a imagem da presidente Dilma de intolerância com a corrupção.
E corrupção é o que não falta no ministério dos Esportes, que perdeu completamente o controle básico e indispensável a qualquer gestão.
E é na condição de gestor desse feudo implicado em desvios de verbas, associado a personagens menores do submundo da Corte, como o PM Dias Ferreira, que Orlando Silva tem responsabilidade intransferível nos acontecimentos.
Essa a questão política. E pelo fato de ser política não está imune a conseqüências jurídicas, ainda que essas recaiam sobre os responsáveis por liberações de verbas e por ONGs inidôneas.
O ministro, desde a decisão do STF, está inviabilizado no cargo. Interditado já estava, sem condições de cumprir a agenda por conta das denúncias que não param.
Investigado em seu próprio país, como será interlocutor do governo para a Copa do Mundo? Além disso, vive a plenitude da perda da autoridade política.
Resta saber se a presidente Dilma o substituirá imediatamente ou se tocará o ministério com um interino até a reforma ministerial. Difícil será buscar esse interino no primeiro escalão ministerial, cujos integrantes estão comprometidos até o pescoço com as irregularidades, como, aí sim, prova a fita divulgada pelo soldado da PM.
O governo joga contra o tempo agora: muito mais coisa está por aparecer, pois as operações do PC do B no ministério até aqui conhecidas, são a ponta de um iceberg.
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