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ELIANE CANTANHÊDE na Folha de S.Paulo
BRASÍLIA - Há algo de realmente preocupante na articulação do governo para a Copa de 2014, quando o Ipea diz, por exemplo, que, ao mesmo tempo, a Infraero não conseguiu gastar 44% do orçamento previsto para as obras nos aeroportos e não conseguiu cumprir o cronograma. Se havia dinheiro e onde gastar, por que não foi gasto?
Há também algo estranho quando a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, anuncia a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) para 2012 e ali não há nadica de nada para agilizar as obras e garantir que a Copa saia a contento. Aliás, nem a Copa nem a Olimpíada.
A oposição suspeita que tudo isso embuta uma grande jogada, não no campo do futebol, mas em outros campos bem mais pantanosos. Seria um chute na Lei das Licitações, que chateia e atrasa, mas é um freio para ambições descabidas e roubalheiras em geral.
O pretexto seria, ou será, que é preciso tirar burocracia e adicionar agilidade para reformar ou construir aeroportos, estradas, metrôs. Mas é aí que mora o perigo. Você flexibiliza o processo e acaba afrouxando os mecanismos de controle. Onde passa boi, passa boiada.
A oposição também teme que, além de jogar a Lei das Licitações para o alto, governistas estejam maquinando algo muito pior: usar a Copa para fazer caixa de campanha para o PT e os partidos aliados.
Longe da gente pensar uma coisa assim, não é mesmo? Mas, por via das dúvidas, é bom lembrar que o detalhe mais atordoante de todo esse campeonato é que 2014 não é só ano da Copa, mas também ano das eleições gerais. O que estará em jogo será um novo mandato para Dilma (ou Lula), além de todos os governos estaduais, Câmara e boa parte do Senado.
Dilma deve ter o máximo de cuidado. Não apenas para se prevenir contra escândalos, mas também para evitar suspeitas, porque elas são como coceira: quando começam, não passam. Já está coçando.
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