domingo, 28 de novembro de 2010

Agora é que são eles - DORA KRAMER



DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
Fechada a equipe econômica, acertados os nomes dos chamados ministros da casa - com assento no Palácio do Planalto, junto à presidente - ainda neste fim de semana Dilma Rousseff começa a tratar com os partidos aliados da distribuição dos espaços na Esplanada dos Ministérios.
Pela expectativa do PMDB, o partido do vice-presidente Michel Temer será o primeiro. Os peemedebistas têm duas preocupações: assegurar posições "qualificadas" e encaminhar as negociações sem pressões ruidosas, a fim de se diferenciar das demais legendas e evitar comportamentos explicitamente fisiológicos.
E por que isso? Porque considera que, uma vez eleito na mesma chapa com Dilma, subiu de grau na hierarquia: não pode ser visto como adesista; deve se conduzir e ser tratado como legítimo partícipe digno de postos de elite.
O PT ocupa mais ministérios e faz parte do núcleo de poder? O PMDB diz que é justo, mas aponta que por isso mesmo os petistas não podem querer açambarcar o comando do Legislativo. A direção do partido assegura que até agora a presidente não enviou nada além de "sinais de prospecção". Não disse claramente o que pretende para o parceiro de chapa.
Já o PMDB acredita ter deixado bem entendido o que almeja: garantir a atual parte que lhe cabe no latifúndio de 37 ministérios. Mas só os efetivamente ocupados pelo partido. Contando com o Banco Central, hoje são sete as pastas dirigidas por filiados ao partido.
Mas a direção não considera que José Gomes Temporão, da Saúde, e Henrique Meirelles, do BC, sejam indicações partidárias. Nesses dois casos o PMDB diz que foi usado como "barriga de aluguel". Situação que não vai aceitar.
Excluídas as "barrigas", sobrariam cinco ministérios: Defesa, Comunicação, Integração Nacional, Minas e Energia e Agricultura.
Não se espera que Dilma mantenha necessariamente as mesmas pastas, mas que assegure a quantidade, não escale o partido para pastas periféricas e aceite as indicações dos nomes feitas por intermédio de Michel Temer sem questionar.
Em contrapartida, o PMDB se compromete a obedecer aos três critérios já postos pela presidente: densidade de apoio político, experiência na área específica e imunidade pessoal a possíveis escândalos.
Temer é o único interlocutor/negociador autorizado e, ao contrário do que ocorreu nos dois mandatos de Lula, os indicados terão o respaldo unitário e não das alas a, b ou c do partido. Daí a expectativa de que sejam aceitos.
Só serão indicados "homens do partido" e na seguinte proporção: dois para a Câmara, dois para o Senado e um para livre provimento do vice e presidente do PMDB, Michel Temer.
E se a presidente não concordar com nada disso?
O PMDB acha que Dilma Rousseff é sagaz o bastante para compreender o que não precisa ser dito por escrito.
Fora de cena. A presidente eleita desistiu de acompanhar Lula à reunião da Unasul, não aceitou convite de Barack Obama para ir aos EUA antes da posse, não apareceu no anúncio da equipe econômica.
É só reparar: Dilma tem se comunicado com o País por nota oficial. Na crise que atinge o Rio de Janeiro, soube-se que ela telefonou para o governador Sérgio Cabral, mas a presidente não apareceu em momento algum.
Aliás, Dilma Rousseff não aparece desde que acompanhou o presidente Lula à reunião do G-20. Na ocasião, foi mais assediada pela imprensa do que ele.
Esse fato associado ao "sumiço" faz supor que Dilma tem feito um afastamento estratégico exatamente para não roubar a cena de Lula nesses últimos momentos de mandato.
Se o fez por iniciativa própria ou a pedidos, não está claro.
Na primeira hipótese, um gesto de cortesia; na segunda, ato de obediência.
Cacoete. Em tese, ações integradas entre os diferentes níveis de poder, federal, estadual e municipal, não deveriam estar subordinadas a afinidades político-eleitorais, e sim ao bem estar do público pagante (de impostos). 


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