terça-feira, 30 de novembro de 2010

Lula: antecessores não tiveram as mesmas condições



LEONENCIO NOSSA, ENVIADO ESPECIAL - Agência Estado
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um discurso atípico, disse reconhecer que seus antecessores não tiveram as mesmas condições que ele ao assumir o comando do País. "Eu tenho consciência que outros presidentes da República não tiveram as mesmas condições que eu", afirmou. "O presidente Sarney pegou o Brasil em época de crise. O Fernando Henrique Cardoso, mesmo se quisesse fazer, não poderia, pois o Brasil estava atolado numa dívida com o FMI. Quando você deve, tem até medo de abrir a porta e o cobrador te pegar", disse Lula.
As declarações do presidente foram feitas em um discurso de improviso durante visita ao canteiro de obras da usina hidrelétrica de Estreito, na divisa do Maranhão com Tocantins. O presidente observou que a inauguração da obra ficará mesmo para o governo da presidente eleita, Dilma Rousseff. "É a Dilma que virá inaugurar, mas eu tinha que vir para fechar a comporta, pelo menos", disse.
Lula lembrou que precisou desmarcar três visitas à obra por causa de problemas nas áreas ambiental e social. Comunidades ribeirinhas denunciam que estão sendo prejudicadas pela construção da usina. O presidente afirmou que recentemente foi firmado um acordo entre o consórcio Estreito Energia, construtor do projeto, e o movimento de atingidos pelas barragens. Pelo acordo, a empresa se responsabilizará por garantir a realocação das famílias e criar condições para que os pescadores continuem suas atividades. "Eu não queria violência com qualquer pessoa", afirmou Lula.
Sarney
Lula foi recebido no canteiro de obras da usina hidrelétrica de Estreito pela governadora do Maranhão, Roseana Sarney, pelo marido dela, o empresário Jorge Murad, e pelo senador Edson Lobão (PMDB). Na visita, Lula fez referências a Lobão, que tenta voltar ao cargo de ministro de Minas e Energia, no governo Dilma, e ao senador e pai de Roseana, José Sarney, que não estava presente.
No discurso, Lula aproveitou para relatar encontros privados com Sarney, especialmente na época da crise do mensalão, em 2005. "Uma vez o Sarney foi conversar comigo e eu disse: Sarney, eu só quero que o senhor diga lá dentro (Congresso Nacional) o seguinte: Se eles (oposição) tentarem dar um passo além da institucionalidade, eles não sabem o que vai acontecer neste País", relatou Lula. "Este País teve presidente que foi embora, presidente que se matou ou foi cassado. Eles vão saber que eu sou diferente. Que não é o Lula que está na Presidência, mas a classe trabalhadora", afirmou.
Lula confidenciou que ao assumir o governo tinha "muita dúvida" se teria condições de governar o País. "Este País já tinha criado as condições para o Getúlio Vargas se matar, não deixar o Juscelino assumir e cassou o João Goulart. Eu falei: o que eles vão aprontar comigo? E eles tentaram em 2005", afirmou. "Só que eles não sabiam que este País, pela primeira vez, tinha eleito um presidente que era a encarnação do povo, lá em Brasília." 


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