PETER A - REUTERS
Os telegramas diplomáticos divulgados pelo site WikiLeaks até agora podem causar constrangimento a diplomatas dos Estados Unidos, mas é pouco provável que destruam qualquer relacionamento internacional.
A lição principal a tirar parece ser que a era da informática tornou fácil roubar volumes imensos de dados e fez com que seja mais difícil conservar segredos.
Os EUA e outros governos vêm procurando maximizar os prejuízos diplomáticos que serão causados pela divulgação de cerca de 250 mil telegramas, detalhes dos quais começaram a ser publicados por jornais ocidentais no domingo.
Os telegramas, alguns divulgados por inteiro e outros apenas parcialmente, revelam opiniões e informações confidenciais, em muitos casos pouco elogiosas, de diplomatas norte-americanos seniores baseados no exterior. São materiais que normalmente teriam sido mantidos confidenciais por décadas.
Especialistas e ex-funcionários governamentais estão divididos quanto ao impacto. Falando antes da divulgação dos documentos, o chanceler italiano Franco Frattini disse temer que a publicação será "o 11 de setembro da diplomacia", que "jogará por terra a confiança entre Estados".
Outros se mostraram bem mais otimistas e acham que os diplomatas continuarão com sua tradição de cortesia em público e franqueza brutal nos relatórios enviados a seus governos.
"Isto não vai prejudicar a franqueza dos diplomatas", disse à Reuters sir Christopher Meyer, ex-embaixador britânico em Washington. "Mas as pessoas vão se preocupar com a segurança de arquivos e comunicações eletrônicos. Teria sido impossível roubar documentos em papel em volume tão grande."
É uma lição que os governos vêm aprendendo rapidamente. Autoridades britânicas já sofreram vários constrangimentos com a perda de discos contendo dados pessoais relativos a milhares de pessoas do público geral, e especialistas dizem que hackers já roubaram um volume imenso de informações delicadas de empresas ocidentais.
No caso do vazamento mais recente, assim como a divulgação de anos de registros militares dos EUA sobre os conflitos do Iraque e Afeganistão, ocorrida alguns meses atrás, os telegramas parecem ter sido obtidos por uma pessoa apenas. O soldado raso do exército norte-americano Bradley Manning foi acusado de vazar informações sigilosas e se encontra em prisão militar.
PREJUDICANDO A DIPLOMACIA?
"O responsável por este vazamento deveria ser fuzilado, e eu me ofereceria para puxar o gatilho", disse Roger Cressey, ex-funcionário de contraterrorismo e ciber-segurança dos EUA, descrevendo o vazamento como "devastador".
"A essência de nossa política estrangeira é nossa capacidade de dialogar direta e honestamente com nossas contrapartes internacionais e manter essas conversas longe de domínio público. Esse vazamento maciço coloca essa exigência básica da diplomacia sob risco no futuro."
Cressey menciona as relações delicadas dos EUA com Arábia Saudita e Afeganistão, ambos países chaves na estratégia norte-americana contra a militância islâmica. Os telegramas incluem críticas aos dois países e detalhes de conversas com seus principais representantes.
Consta que alguns líderes ocidentais teriam sido criticados também, incluindo o primeiro-ministro britânico David Cameron. Angela Merkel, a chanceler da Alemanha, é descrita como sendo avessa a riscos e "raramente criativa".
"É um sinal de que na era da informação, é muito difícil manter qualquer coisa secreta", disse o professor Michael Cox, do instituto britânico de estudos Chatham House.
"Mas duvido que isto vá causar o tipo de abalo sísmico nas relações internacionais do qual alguns governos vêm falando. Os diplomatas sempre disseram grosserias uns sobre os outros em particular, e todo o mundo sempre soube disso."
E algumas das pessoas que deveriam mais estar cientes dos riscos da era da informação já sofreram danos. No ano passado, especialistas em segurança ficaram chocados depois que a esposa do novo chefe do serviço secreto britânico MI6 publicou fotos da família e detalhes no Facebook.
Segundo Cox, os beneficiários reais do vazamento dos documentos no WikiLeaks são historiadores, acadêmicos e estudantes de relações internacionais que agora têm um "grande tesouro" de evidência primária para pesquisar. O volume de dados é tão vasto que detalhes dos documentos poderão ser extraídos durante os próximos anos.
Mas segundo especialistas, as principais informações continuam secretas, transmitidas por canais mais seguros e reservadas para setores mais exclusivos de serviços de inteligência.
"Os governos têm tendência de manter a maior quantidade possível de informação sob sigilo, não importando se é necessário ou não", afirma Cox.
"A informação realmente secreta, eu diria, ainda está bem guardada e provavelmente não vai acabar parando no WikiLeaks."
Nenhum comentário:
Postar um comentário