Operação suspeita. Dono do grupo Conagro, que fez o lance que arrematou a fazenda, sustou o cheque dado como sinal da compra: juíza pediu a quebra do sigilo fiscal e telefônico do empresário, que é vizinho do ex-dono da Vasp em Brasília
Patrícia Cançado - O Estado de S.Paulo
A venda da Fazenda Piratininga, do empresário Wagner Canhedo, ex-dono da falida Vasp, foi invalidada ontem pela Justiça do Trabalho de São Paulo. O comprador da propriedade - o grupo Conagro, liderado por Francisco Gerval Garcia Vivone -, sustou o cheque dado no leilão. No ato do arremate, a empresa deveria um sinal de 15% do valor total.
Diante da relevância do fato, a juíza do trabalho, Elisa Maria Secco Andreoni, determinou a quebra do sigilo bancário e fiscal da Conagro Participações Ltda, de seu diretor presidente Francisco Gerval Garcia Vivoni, de Andrea Cristina Nalim Garcia, além de empresas coligadas como Conagro Investment LLP e AFGV Participações Ltda.
A juíza determinou ainda que o Ministério Público Federal e a Superintendência da Polícia Federal apurem os fatos. "É evidente que ele fraudou o leilão de acordo com o artigo 335 do Código Penal", afirma Francisco Gonçalves Martins, advogado que representa o Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo. "Ele sempre seria o vencedor, pois, se houvesse um lance maior, seria coberto."
A Piratininga foi comprada por R$ 430 milhões, valor mínimo estabelecido pela Justiça para o imóvel. Em dezembro, a Justiça pretende marcar data para um novo leilão. O dinheiro seria destinado ao pagamento de dívidas trabalhistas da Vasp.
Para sustar o cheque, a Conagro alegou ao banco o motivo 21: "folhas de cheques assinadas, perdidas, extraviadas, com ou sem apresentação pelo cliente da comunicação de ocorrência policial ou folhas de cheques roubadas, furtadas sem apresentação do boletim de ocorrência policial".
A juíza conta que, após o leilão, o empresário queria a posse de qualquer jeito. "Ele queria que eu desse o despacho para entrar logo na fazenda. O empresário se mostrou extremamente interessado no negócio. Disse que conhecia a fazenda e que sabia que a propriedade era maior e tinha ainda mais bois do que foi apresentado no leilão", conta Elisa Maria.
Diante da insistência, a juíza preferiu esperar a compensação do cheque. "O empresário ameaçou desfazer o negócio. Então eu disse para ele: "você não está entendendo, eu sou uma juíza, não sou comerciante.""
Carta de crédito. Ontem à tarde, o empresário voltou a ligar para a juíza, mas ela não atendeu o telefonema. Prometeu enviar uma carta de crédito no valor de 500 milhões. A juíza pediu para sua assistente avisar que, se ele fizesse uma transferência eletrônica do valor, ela não enviaria o despacho. O dinheiro não foi enviado e a juíza seguiu adiante.
Até o lance no leilão de quarta-feira, o Grupo Conagro era um nome desconhecido no meio empresarial, assim como seu presidente, Francisco Vivone. O site mostra que o grupo tem uma atuação bastante diversificada - desde a produção e distribuição de alimentos até biodiesel, açúcar e álcool, papel e celulose, higiene e limpeza, fertilizantes, sementes e logística. Vivone mora em Brasília. Tem uma casa no Lago Sul, próxima à casa de Wagner Canhedo.
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