Diplomatas iranianos temem que Dilma mude também o posicionamento sobre a questão nuclear
Roberto Simon - O Estado de S.Paulo
O governo iraniano pretende enviar uma carta do próprio presidente Mahmoud Ahmadinejad à sua nova colega brasileira, Dilma Rousseff. A mensagem será entregue por meio de um "emissário especial" de Teerã, que virá para a cerimônia de posse de Dilma, no dia 1.º de janeiro.
Formalmente, o texto deve se ater ao protocolo diplomático, parabenizando a presidente pela vitória nas urnas. Nas entrelinhas, porém, a mensagem é inequívoca: o Irã teme que Dilma seja menos indulgente com violações dos direitos humanos no país persa e está ansioso para que a inédita aproximação dos últimos oito anos seja mantida.
Ahmadinejad não deverá comparecer à posse de Dilma, tampouco o ministro das Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki. O portador da carta seria uma autoridade do segundo escalão da diplomacia de Teerã, designada para acompanhar a cerimônia em Brasília.
Diplomatas brasileiros e iranianos ainda não sabem ao certo se a provável mudança de Dilma com relação a direitos humanos no Irã envolverá também a questão nuclear.
O Brasil entrou na negociação com o acordo firmado em maio no Irã pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado do premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, e de Ahmadinejad. Ao final, os EUA e países europeus rejeitaram a chamada "declaração de Teerã". No mês seguinte, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma quarta rodada de sanções contra os iranianos; Brasil e Turquia foram os únicos a votar contra a punição.
O isolamento no órgão máximo da ONU obrigou o governo brasileiro a rever sua posição na negociação nuclear. O Itamaraty decidiu que só se envolve na questão se for convidado tanto por Teerã quanto pelo chamado P5+1, grupo formado pelos cinco membros permanentes do conselho (EUA, Rússia, Grã-Bretanha, França, Alemanha e China) e a Alemanha. Como Itamaraty votou contra as sanções de junho, é altamente improvável que americanos e europeus chamem o Brasil para a negociação.
Há ainda um outro elemento que deve mudar a forma como Brasília lida com o programa nuclear iraniano. Segundo um funcionário do governo brasileiro, o País avalia que o novo comando da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) "entregou" o órgão da ONU aos EUA. Com apoio de Washington e da Europa, o atual diretor-geral da AIEA, o japonês Yukiya Amano, foi eleito após derrotar o sul-africano Abdul Samad Minty, apoiado pelo Brasil e emergentes.
Para o governo brasileiro, os relatórios e decisões da agência teriam se tornado praticamente "ditados" pelos EUA. "O caminho para encontrar um acordo diplomático com os iranianos terá de ser outro", diz a fonte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário