quinta-feira, 2 de junho de 2011

Editoriais = Folha de S.Paulo - O segredo de Palocci


Ao protelar explicações críveis sobre seu patrimônio, ministro enfraquece governo Dilma e o deixa vulnerável às chantagens da base aliada

Não se pode mais solicitar, sem ironia, que Antonio Palocci seja célere e convincente nos esclarecimentos sobre a sua variação patrimonial. O chefe da Casa Civil não tem sido célere nem, muito menos, convincente. Ao contrário.
Seu silêncio é diretamente proporcional ao ruído que se avoluma à sua volta. Agora, corre o risco de ter de explicar-se na Comissão de Agricultura da Câmara, quando e se for desfeito o tumulto que sua convocação desatou.
Aguarda-se -talvez para hoje- um parecer da Procuradoria-Geral da República a respeito das explicações prestadas por Palocci. É possível que Roberto Gurgel veja razões para aprofundar as investigações, mas essa é uma hipótese com a qual o Planalto não conta.
O procurador-geral não formulou, ao que se sabe, perguntas específicas. Solicitou apenas que Palocci comentasse os indícios publicados na imprensa e reunidos pela oposição. Há uma possibilidade, portanto, de que a movimentação da empresa de Palocci seja considerada lícita mesmo sem esclarecimento sobre a origem dos R$ 20 milhões que recebeu só em 2010, metade após a eleição de Dilma Rousseff.
Amplia-se na opinião pública a sensação de que, se Palocci prefere o silêncio diante de tanta pressão, de fato tenha algo a esconder. Só ele pode desfazer a impressão que se alastra.
Os efeitos do enfraquecimento do ministro sobre o Planalto se acumulam. O governo tornou-se ainda mais refém de chantagens, agora explícitas, da base de apoio.
"Temos uma pedra preciosa, um diamante que custa R$ 20 milhões, que se chama Antonio Palocci", disse o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), determinado a conseguir um aumento de salário para policiais militares.
Dê-se o devido desconto ao personagem. Ainda assim, a vulgaridade da sua frase traduz uma nova configuração política.
Desde o início do governo, Dilma buscava manter sob algum controle o apetite dos aliados por cargos no segundo escalão. A ampla base de apoio lhe permitiu negociar de forma mais dura do que todos esperavam. Sua atitude, embora louvável, não resistiu à primeira crise, como se estivesse apoiada sobre um fundo falso.
O PMDB aproveita o silêncio de Palocci para mercadejar demandas e ocupar espaços que lhe foram negados por Dilma. O rearranjo da correlação das forças governistas não enseja otimismo.
A primeira tarefa política da presidente da República é se livrar da espada de Dâmocles que pesa sobre a cabeça do governo. Se o ministro tiver condições de permanecer no cargo de cara limpa, tanto melhor. Se não, deve ir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário