sábado, 20 de novembro de 2010

As razões de Meirelles ter de exigir autonomia do BC - O Estado de S.Paulo



O Estado de S.Paulo
Há muitas dúvidas sobre quem será o presidente do Banco Central (BC) no governo de Dilma Rousseff. Uma certeza parece ser de que Henrique Meirelles não ficará sem garantia de autonomia, mesmo que seja convidado para tranquilizar o mercado financeiro, num mandato-tampão.
É uma posição que se justifica. Tudo indica que o presidente do BC deu sua contribuição à campanha eleitoral mantendo a taxa Selic apesar das novas pressões inflacionárias. Quando renunciou, a pedido de Lula, a se candidatar a governador ou a senador, é provável que o presidente lhe tenha indicado que o sacrifício seria compensado na eventualidade de uma vitória do PT. Isso não significa, porém, que a compensação fosse continuar na presidência do BC.
Meirelles vai se encontrar com a presidente eleita na próxima semana para saber o que ela lhe pode propor. Dificilmente será mantido no BC, levando em conta que Guido Mantega permanecerá na Fazenda. Não é segredo que o ministro somente aguentou a política monetária de Henrique Meirelles por pressão de Lula, que teve a coragem de reconhecer que foi essa política que impediu a volta da inflação.
Dilma Rousseff não terá a mesma autoridade do atual presidente, e já o esboço de política econômica do futuro governo não tem consistência no caso de uma taxa Selic de 11,50%. A futura presidente nunca morreu de amores pelo presidente do BC, sem ter-se pronunciado claramente contra a autonomia de fato de que a instituição desfrutava sob Lula.
Henrique Meirelles não renunciará a essa autonomia, ainda mais se considera ambicioso o programa da futura presidente. Há nele três pontos essenciais: priorizar o resultado nominal nas contas do governo; reduzir a longo prazo a relação dívida/PIB para 30%; e conseguir isso com uma redução dos juros sobre a dívida.
Em 1.º de janeiro o BC vai encontrar uma inflação bem acima dos 4,5% previstos, o que exigiria um aperto monetário. A redução dos juros sobre a dívida, admitindo que se continue a verificar a atual liquidez, será lenta, levando em conta que os juros não pagos geraram aumento da dívida.
O sonho da equipe econômica é reduzir a taxa de juros real para 4% num primeiro tempo, esquecendo que a alta taxa da Selic tem sua origem no déficit nominal, que cria uma liquidez incompatível com a estabilidade de preços. Seguramente, Henrique Meirelles está consciente de que a proposta exige grande austeridade na condução da política monetária - o que lhe será recusado. 


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