sábado, 20 de novembro de 2010

UE volta a discutir ajuda para Portugal


Governo português ainda não fez as reformas para impulsionar o crescimento

Steven Erlanger e Raphael Minder - O Estado de S.Paulo
À medida que a Irlanda, mesmo a contragosto, se predispõe a aceitar ajuda financeira da União Europeia (UE), a atenção rapidamente vem se concentrando em Portugal, outro país considerado o elo fraco da zona do euro.
Apesar de os dirigentes portugueses insistirem que têm dinheiro suficiente e que estão realizando cortes de gastos, o governo português está dividido. Agitou o mercado ao autorizar um aumento de gastos nos últimos quatro meses e não realizou a reforma estrutural para impulsionar o crescimento econômico.
"A diferença da Irlanda é que estamos no meio de uma crise financeira e também de uma crise política", afirmou Ricardo Costa, redator adjunto do semanário Expresso. O primeiro-ministro socialista José Sócrates perdeu a maioria nas eleições de 2009 e precisa negociar com a oposição de centro-direita.
Novas eleições só poderão ser realizadas no segundo trimestre do próximo ano, segundo as regras constitucionais. "Portanto, a situação política é bastante frágil", disse Ricardo Costa.
Os investidores estão alarmados com o fato de Portugal, até agora, não cumprir a promessa de reduzir o déficit. Nos primeiros nove meses do ano, o déficit orçamentário do governo aumentou 2,3% em relação ao ano anterior, para US$ 12,7 bilhões, de acordo com dados do Ministério das Finanças. Dados que contrastam com os da Espanha, maior parceiro comercial de Portugal e também com dificuldades econômicas, mas que conseguiu reduzir em 42% o déficit orçamentário no mesmo período.
"Trata-se claramente de um problema de execução, que tem minado a reputação do governo e a confiança de que ele vai cumprir os compromissos assumidos com os parceiros domésticos e estrangeiros", disse Antonio Nogueira Leite, ex-secretário do Tesouro e professor da Escola Nova de Economia e Negócios em Lisboa. O governo da Irlanda tem dinheiro, mas seus bancos estão cobertos de dívidas e o governo prometeu garantir essas dívidas, ficando ele próprio vulnerável. O problema de Portugal é diferente. Os bancos não estão em dificuldades, mas é o Estado que está muito endividado. O crescimento da economia é pequeno, e o montante da dívida pública e privada é considerável.
A dívida total é maior do que o Produto Interno Bruto (PIB), US$ 275 bilhões em relação a uma economia de US$ 232 bilhões ao ano, um dos coeficientes mais altos do mundo desenvolvido.
Em entrevistas, José Sócrates qualificou os mercados financeiros de "muito desleais". Mas para Antonio Nogueira Leite, que também é assessor econômico do Partido Social Democrata, de oposição, os mercados viram "o fracasso total do governo no controle dos gastos públicos".
"Há uma percepção de que este governo não está apto para essa tarefa, embora devesse ser capaz de cumprir com ela", disse.
Assim, os juros que Portugal teria de pagar nos mercados, caso precise tomar emprestado serão altíssimos, obrigando o país a recorrer à UE e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
O governo português e o irlandês esperam que os mercados se aquietem. Mas os outros governos da UE temem que, se os mercados não se acalmarem agora, a crise pode contagiar a Espanha, quarta maior economia da zona do euro./ TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO 

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