Nicola Pamplona / RIO - O Estado de S.Paulo
A proximidade do fim do prazo exploratório do campo gigante de Tupi acirrou uma guerra de informações entre a Petrobrás e sua principal parceira no pré-sal da Bacia de Santos, a britânica BG. Em dois meses, a BG divulgou dois comunicados que desagradaram à direção da Petrobrás, por conterem projeções mais otimistas a respeito de volume de reservas e custos relativos ao projeto.
Por trás dessa briga, segundo analistas, estão grandes divergências estratégicas entre as duas empresas. Cansada de esperar por atualizações das estimativas oficiais, feitas em 2007, a BG quebrou o protocolo e decidiu publicar suas próprias projeções, que falam em reservas próximas a 9 bilhões de barris e custos bem abaixo dos US$ 40 por barril usados pela estatal na avaliação do projeto.
"A BG está preocupada em gerar valor para seus acionistas, movimentando as ações, enquanto a Petrobrás parece estar satisfeita em ver seus papéis andando de lado", diz um influente executivo do setor, que pediu para não ser identificado. Além disso, fontes próximas ao projeto dizem que há reais divergências com relação aos custos para iniciar a produção.
O embate começou no início de novembro, quando a BG divulgou comunicado informando que uma nova análise feita pela certificadora independente Miller and Lents Ltd. (MLL) ampliava em 2,7 bilhões de barris as estimativas de reservas para seus ativos na Bacia de Santos. O estudo diz que as melhores projeções para Tupi apontam para 8,99 bilhões de barris de petróleo e gás.
Na semana passada, a companhia divulgou nova nota, dizendo que, "à luz das impressionantes características do reservatório e da alta produtividade dos poços", estava calculando os custos do projeto em US$ 14 por barril - US$ 5 referentes ao custo de capital e US$ 9 por barril de custo operacional.
Os comunicados provocaram reação instantânea da Petrobrás. Em sua última resposta, a companhia reafirmou que mantinha suas estimativas iniciais: reservas entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris e viabilidade econômica com petróleo entre US$ 35 e US$ 40 por barril. No texto, ressaltava que a BG descumpriu o contrato de sociedade no projeto, que tem ainda a participação da portuguesa Galp.
Comercialidade. A disputa ocorre na véspera de uma etapa importante dos contratos petrolíferos no Brasil, chamada de declaração de comercialidade, na qual o consórcio informa à Agência Nacional do Petróleo (ANP) se ficará ou não com a concessão, comprometendo-se com investimentos para extrair as reservas - no caso de Tupi, é notório que as empresas tocarão o projeto. A partir desse momento, as concessionárias estão liberadas também para apropriar as reservas em seus balanços.
A BG já anunciou que as primeiras plataformas podem garantir apropriação de 2,2 bilhões de barris nesse primeiro momento. Questionado na semana passada sobre qual era o volume correto, porém, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, reiterou a projeção de 5 bilhões a 8 bilhões de barris, mas disse que não poderia dar mais detalhes.
A estimativa foi feita ainda em 2007, quando a empresa confirmou oficialmente a existência do pré-sal, e nunca mais atualizado, embora a estatal já tenha perfurado 11 poços na concessão.
A quebra do protocolo de divulgação de informações não é comum no setor e pode denotar descontentamento dos britânicos com a maneira em que a Petrobrás vem tratando a questão. Para um executivo próximo ao projeto, além da falta de novidades que motivem os acionistas, a BG considera conservadoras as projeções da Petrobrás. O desfecho desse embate é esperado pelo mercado financeiro, que espera qualquer novidade que dê um gás nas ações da Petrobrás, que sofreram este ano por causa da capitalização da companhia.
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