segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Encontro de Dilma e Cristina Kirchner revela mais diferenças que semelhanças



Uma das poucas coisas em comum entre as políticas é que são as duas únicas mulheres da América do Sul a ocupar a presidência de países

Arial Palacios e Luiz Weber, de O Estado de S.Paulo
BUENOS AIRES - O ano de 2011 possui um especial simbolismo para as presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner. Para a brasileira, este é seu primeiro ano como presidente. Para a segunda, é o último ano do atual mandato presidencial (embora esteja informalmente na corrida para sua reeleição). Esse é um dos poucos pontos em comum entre ambas líderes, além do fato de serem as duas únicas mulheres que ocupam a presidência de países na América do Sul atualmente.
De forma geral, as diferenças entre ambas políticas estão marcadas desde o passado. Durante a ditadura militar no Brasil Dilma entrou na guerrilha. Esteve presa durante três anos, de 1970 a 1972, primeiro na sede da Operação Bandeirantes (Oban), depois, no Dops. Foi barbaramente torturada no período.
Poucos anos depois, em 1976, na Argentina, os militares davam seu golpe de Estado. Na época, Cristina Kirchner estudava Direito na Universidade de La Plata. Ela e seu marido, Néstor Kirchner, recém-casados, nunca participaram de ações armadas, já que eram simples militantes da Juventude Peronista, sem peso político dentro da organização. Pouco depois do golpe, assustados, o casal Kirchner mudou-se para a província natal de Néstor, Santa Cruz, na Patagônia. Ali, durante a ditadura - ao longo da qual Cristina nunca assinou um habeas corpus para prisioneiros do regime militar - a então advogada prosperou com um escritório especializado em executar hipotecas.
Cristina nunca foi presa pela ditadura, embora nos últimos anos alguns de seus assessores tenham tentado criar um passado mais "romântico" e "engajado" da presidente argentina, sugerindo que esteve detida por "alguns dias". Décadas depois da ditadura, Cristina fez dos julgamentos aos ex-torturadores do regime militar uma das principais bandeiras de seu governo.
Enquanto Cristina é avessa à imprensa e prefere os discursos em palanques para comunicar ("a presidente prefere o contato direto com o povo, sem intermediários, isto é, a imprensa", disseram ao Estado assessores da Casa Rosada), Dilma possui uma relação mais profissional com a mídia. Foge dos quebra-queixos e concede entrevistas coletivas depois de atos do governo federal. Até agora a presidente brasileira não criticou abertamente os grandes jornais do país e afirma, brincando, que o único controle de mídia que conhece é o "controle remoto" da TV.
No entanto, Cristina afirma que é vítima de um "fuzilamento midiático" por parte dos grandes grupos de comunicação da Argentina. Segundo ela, estes planejam desde 2008 um "golpe de Estado". Em 2009, em meio à uma sessão com diversas irregularidades, aprovou a polêmica Lei de Mídia, que implica em restrições à atuação dos grupos jornalísticos críticos com o governo, enquanto que favorece o surgimento de grupos de mídia aliados com a administração Kirchner.
As duas presidentes também possuem comportamentos diferentes com os partidos da oposição. Enquanto o PT, que não possui maioria absoluta no Congresso Nacional nem o governo da maioria dos estados, Cristina teve - quando tomou posse em 2007 - o controle do Senado e da Câmara de Deputados, além do respaldo enfático de 19 dos 24 governadores da Argentina. Mas, esse poder - que criou um cenário de "hiper-presidencialismo" - encolheu drasticamente a partir de 2009.
Dilma não tem nenhum desentendimento com a oposição e assegura que não discriminará nenhum partido. Pragmaticamente, governa com uma coligação de doze partidos. Na contra-mão, Cristina, apesar da perda de poder, recusa-se a dialogar com a oposição, à qual acusa - indiscriminadamente - de "golpista". O governo, embora com a primeira minoria, é composto pelos kirchneristas, isto é, os integrantes do partido Peronista que permanecem fiéis ao governo. Os peronistas dissidentes partiram e formam atualmente uma dura oposição.
Herança
Dilma foi eleita com 56% dos votos. Seu principal cabo eleitoral foi seu antecessor e presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que possui especial influência em seu governo. Do outro lado da fronteira, Cristina foi eleita com 45% dos votos. Seu principal cabo eleitoral foi seu antecessor e marido, o presidente Néstor Kirchner, que até sua morte, em outubro passado, foi considerado o "verdadeiro poder" no governo da mulher. Tanto Lula como Kirchner deixaram às suas sucessoras uma parte substancial do gabinete de ministros.
Dilma herdou 14 ministros da administração Lula. Os outros 23 foram escolhidos pessoalmente por ela ou indicados por partidos aliados. No caso de Cristina, seu primeiro gabinete, de um total de 16 ministros, 12 eram herança da administração do marido, além de três secretários.
O look
Dilma fez uma cirurgia plástica para dar um "retoque" na boca, nariz, pálpebras, além de retirar rugas. Na contra-mão, Cristina não admite que tenha feito esse tipo de intervenções estéticas, embora os rumores sobre a presidente argentina - apelidada de "a rainha do bótox" - indicam o contrário. No entanto, ela admite que maquia-se "como se fosse uma porta que está sendo pintada". Ela demora mais de uma hora para maquiar-se.

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