sexta-feira, 15 de abril de 2011

Editoriais = Folha de S. Paulo - As rédeas da inflação



Se aumentar a taxa de juros em 0,5 ponto percentual na semana que vem, Banco Central poderá pôr freio na deterioração de expectativas
No debate atual sobre a atitude do Banco Central na condução da política monetária, diante da rápida piora nas expectativas inflacionárias, a máxima sobre a mulher de César se aplica bem. Mais que isso: para além da possibilidade de estar certo, o BC tem de parecer certo e provar-se certo.
Antes de mais nada, é preciso qualificar as críticas recentes ao banco. De um lado estão alguns analistas mais ortodoxos, que por princípio não aceitam que a estratégia de usar um rol de instrumentos mais amplo do que a taxa básica de juros possa ter sucesso.
Essa visão extrema está provavelmente equivocada. Para atacar os desequilíbrios atuais, que se concentram no excesso de consumo e em pressões salariais, faz sentido adotar, em complemento aos juros, as chamadas medidas prudenciais: controle seletivo do crédito e aumento do depósito compulsório por bancos.
Por sua parte, o BC tem errado na comunicação, ao propagar uma visão muito mais otimista que a da maior parte das análises (e não só as oriundas do mercado financeiro). Mesmo após a grande surpresa inflacionária no primeiro quadrimestre, o BC sustentou que as pressões estariam circunscritas a matérias-primas e logo cessariam. No último relatório de inflação, deu margem a especulações de que poderia diminuir o ritmo da alta de juros -ou mesmo interrompê-la- na próxima reunião do Copom, quarta-feira.
Para o BC, a inflação acumulada em 12 meses chegaria ao teto da meta (6,5%) só em meados deste ano, para então recuar para 5,6% no fim de 2011 e convergir para 4,5% (centro da meta) em junho de 2012. Enquanto isso, as projeções do setor privado apontam para 6% a 6,5% no final do ano. O risco de o IPCA fechar o ano acima do teto é, portanto, palpável, assim como um cenário bem acima do centro da meta no ano que vem.
A situação é grave, a ponto de outros objetivos já começarem a ser sacrificados. No câmbio, o governo deixou claro que abandonou, ao menos por ora, a luta para conter a valorização do real, na esperança de que o repasse de custos menores nas importações ajude a conter a alta de preços.
Diante de tais desafios, a melhor saída para o BC é dar um passo firme para demonstrar controle: aumentar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual na semana que vem. Caso seu cenário otimista esteja correto, isso poderá frear as altas em breve. Se estiver errado, e a inflação continuar subindo, uma atitude de acomodação, agora, teria custo mais alto para sua credibilidade e para o país, no médio prazo.
Transcorrido um trimestre de cacofonia na política econômica, falta ao governo disseminar o tom correto: o crescimento precisa ser preservado, decerto, mas com inflação em alta não se pode crescer de modo sustentável. Logo, é preciso controlar a elevação dos preços, rápido. Essa é a prioridade.

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