segunda-feira, 11 de abril de 2011

Editoriais = Folha de S. Paulo - Obama candidato


O lançamento da candidatura de Barack Obama à reeleição acontece no momento em que seu governo se encontra sob ataque ferrenho da oposição. Ao mesmo tempo, consolida-se a percepção de que promessas de sua campanha não serão cumpridas.
Na eleição parlamentar de 2010, os norte-americanos deram a maioria da Câmara à oposição, que conseguiu também diminuir a vantagem democrata no Senado. Os republicanos agora ameaçam travar por tempo indeterminado seu Orçamento na Câmara, o que poderia levar a uma séria paralisia administrativa do governo, risco que por ora parece afastado.
A prisão de Guantánamo permanecerá aberta por muitos anos, como uma cicatriz a lembrar a meta descumprida. A guerra no Afeganistão, conflito prioritário para Obama, está longe de ser vencida. E os EUA cometeram vários equívocos na onda de revoltas árabes.
Esse quadro não significa, contudo, que o presidente norte-americano caminhe para um fracasso eleitoral. A economia, destroçada pela crise de 2008, dá sinais de retomada. O desemprego continua alto, em 8,8%, mas é a menor taxa desde a hecatombe financeira.
Esse cenário resulta numa aprovação a Obama em torno de 50%. O número, mesmo longe dos altos índices do início de governo, é superior à avaliação que Bill Clinton ou Ronald Reagan obtiveram nesse ponto do terceiro ano de governo -ambos sofreram derrotas nas eleições congressuais de meio de mandato e depois lograram reeleger-se com certa tranquilidade.
Uma das chaves para a popularidade residual de Obama talvez esteja na derrota eleitoral de 2010. O radicalismo dos republicanos que chegaram ao Congresso acaba por servir como um lembrete sobre as razões que levaram o então senador a galvanizar tantos eleitores independentes. Seu discurso racional e conciliador voltou a soar como um atrativo real.
Além disso, há a desordem no campo republicano. Não sobressai ali nenhum nome de consenso, e as principais estrelas ascendentes, como a ex-candidata a vice Sarah Palin, apenas aumentam o contraste com a ponderação de Obama. É improvável que consigam apoio de espectro mais amplo do eleitorado dos EUA.
Ainda faltam quase dois anos para a eleição presidencial. Até lá, numa cena política tão midiática e polarizada como a norte-americana, o imprevisível sempre pode reapresentar-se. Mas a recuperação econômica e o carisma de Obama (ainda que desbotado) fazem dele um bom candidato a mais quatro anos no poder.

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