Com avaliação recorde, quanto mais para uma estreante, e bem tratada na China, onde obteve êxito de fazer inveja aos mais hábeis comerciantes, a presidente Dilma Rousseff tinha tudo para festejar sua primeira semana pós-100 dias. Poderia fazê-lo à vontade não fosse a incômoda herança que ela terá de se esforçar para não chamar de maldita.
Dissabores em série desabaram sobre Dilma.
Do relatório do Ipea – instituto de pesquisa oficial aparelhado pelo PT -, dando conta de que não há como concluir as obras de nove dos 13 aeroportos até 2017, muito menos para a Copa de 2014, ao paquidérmico PAC, principal vitrine de sua eleição, que quase nada andou desde o início do ano.
Da chateação com deputados da base que ameaçam se rebelar diante da possibilidade real de calote nos restos a pagar à incômoda inflação que não pára de subir.
Da anunciada demissão em massa de seis mil trabalhadores na obra de Jirau às denúncias de que o PAC, do qual foi ungida mãe, financia dezenas de obras onde se pratica trabalho quase escravo.
Tudo isso em uma só semana. Não é pouco aborrecimento.
Dilma sabia de tudo, ou pelo menos deveria saber. Por obrigação, como ministra da Casa Civil e gestora-mor do governo Lula. Por responsabilidade.
Há um ano, ao lançar o PAC 2, sem que a versão anterior tivesse evoluído a contento, dizia, no papel de candidata, que o programa era a “herança bendita” para o sucessor de Lula. Hoje, não pode simplesmente dizer que queimou a língua. Mas começou por chamuscá-la quando, já eleita e empossada, repetiu três vezes: “nós não vamos contingenciar o PAC”.
O resultado está aí. Dos R$ 40 bilhões de gastos autorizados, apenas R$ 102 milhões foram pagos, ou seja, 0,25% do previsto. Pode-se preferir uma versão à la Delúbio, algo do tipo “restrição dadas as contingências”. Antes, há de se brigar muito com o dicionário.
Por estratégia ou personalidade, Dilma pouco fala. Segue à risca o script da contenção verbal, precioso diferencial de seu antecessor. No máximo, solta bordões sobre a luta renhida contra a inflação.
Na China, repetiu “o compromisso com o combate à inflação, o crescimento econômico e a inclusão social”. Só não mostrou como, se com ases na manga ou coelhos na cartola.
A intenção longe do gesto garantiu as loas e as borrifadas de incenso na primeira centena de dias. Mas elogios não servem à estabilidade econômica, nem seguram a inflação.
Os gastos públicos dispararam para eleger Dilma, que, nesta altura, já deveria ter se dado conta do peso da conta Lula. Um fardo sobre o país, maldita herança que ela terá de bendizer.
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan
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