quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Em café com o PT, Lula diz que não voltará em 2014



no Josias de Souza


Mal digeriu o jantar que teve com o PMDB na noite passada, Lula foi à mesa do café da manhã com os congressistas do PT.

Durante o encontro, jurou que não levará o nome à cédula em 2014.

Insinuou que, se acalentasse o desejo de retorno, teria jogado para perder em 2010.

"Se eu quisesse voltar em 2014 teria apoiado o Serra. Eu acho que a Dilma tem todo direito de disputar a reeleição".

Rogou aos petistas que superem suas divisões internas. Disse que o PT não defendeu adequadamente o seu governo na crise mensaleira de 2005.

Um “erro” que, segundo Lula, não pode se repetir sob Dilma Rousseff. Acha que o partido tem de defender o governo mesmo em cenário de crise.

Tomado pelas palavras, Lula deseja que seu partido defenda Dilma mesmo diante do indefensável.

Esquivou-se de recordar que, na crise do mensalão, esforçou-se para transferir todas as culpas do governo para o PT.

Disse na ocasião que “não sabia” dos malfeitos, entregou o escalpo de José Dirceu, e considerou-se “traído” em sua confiança.

Agora, queixa-se da ausência de defesa. Aponta o “acanhamento” do PT diante da crise e das críticas.

"Ele pediu para a bancada não deixar a oposição sem resposta e reclamou que em 2005 era mais atacado do que defendido”, contou Fernando Ferro (PE).

Líder do PT na Câmara, Ferro contou que Lula “falou que em alguns momentos houve um acanhamento da bancada na defesa do governo e isso não deve se repetir".

Lero vai, lero vem Lula referiu-se ao discurso de despedida que Tasso Jereissati (PSDB-CE) fizera na véspera, no Senado.

Tasso empilhou críticas a Lula e ao petismo. Comparou o presidente a “Macunaíma”, o “herói sem nenhum caráter” de Mário de Andrade.

Fez, no dizer de Lula, “o discurso do ódio”. E não houve quem defendesse o governo no plenário.

Curioso, muito curioso, curiosíssimo. Não há ódio maior que o destilado por Lula nos palanques de 2010 contra os senadores da oposição.

A julgar pelo que diz, além de “extirpar” a oposição da cena política Lula deseja que os adversários que sobrarem apanhem de bico calado.

No mais, Lula recomendou ao petismo que não quebre lanças na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado.

Recordou que, na última vez em que o PT se dividiu na Câmara, o resultado foi o “desastre” da eleição de Severino Cavalcanti.

Absteve-se de lembrar que, nas pegadas do “desastre” deu de ombros para o PT e levou à presidência da Casa Aldo Rebelo (SP), do inexpressivo PCdoB.

Quanto ao Senado, Lula deu de barato que o direito à presidência é do PMDB. A legenda prepara-se para prover a José Sarney sua tetrapresidência.

Dono da segunda maior bancada de senadores, o PT preparava-se para reivindicar a primeia-secretaria do Senado. Lula acha errado.

Mais importante que a primeira-secretaria, disse ele, é a vice-presidência. É essa a cadeira que, na sua opinião, o PT tem de cobiçar.

Como se sabe, a primeira-secretaria é uma espécie de prefeitura do Senado. Administra um orçamento que roça os R$ 3 bilhões anuais.

Concentram-se ali todas as encrencas dos contratos superfaturados e das contratações de terceirizados e de fantasmas.

No instante em que o PT reúne condições de moralizar a fuzarca, Lula recomenda que a legenda se afaste da encrenca. De novo: curioso, muito curioso, curiosíssimo.

Lula informou aos congressistas de seu partido que, depois de passar a faixa a Dilma, vai tirar dois ou três meses para descansar.

Depois, volta à política. Vai correr o país. Planeja embrenhar-se no debate partidário e político. Aposentadoria? Nem pensar. Como se vê, não vai desencarnar.

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