quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sob pressão, euro cai ao menor nível em 200 dias


Bolsas e títulos de governo voltam a cair, e desemprego bate mais um recorde, 10,1%

Andrei Netto CORRESPONDENTE / PARIS - O Estado de S.Paulo
A Europa viveu ontem mais um dia da espiral de rumores e especulações que tomou os mercados financeiros das principais capitais do continente. Pressionado por boatos sobre a solvência da Itália e da Espanha e até sobre a estabilidade dos títulos de Alemanha e França, o euro caiu abaixo da faixa de US$ 1,30, seu menor valor em 200 dias, enquanto em Londres, Frankfurt, Paris, Milão e Madri as bolsas de valores voltaram ao vermelho.
A nova rodada de especulações nos mercados financeiros teve início logo na abertura dos pregões. No meio da manhã, a divisa europeia já enfrentava uma forte queda. Por volta de 10h, o euro valia ? 1,2967, chegando ao seu menor valor desde 16 de setembro. A nova queda elevou a 8% as perdas da divisa em relação ao dólar em novembro. Contribuiu para o clima de instabilidade a divulgação do aumento do desemprego na zona euro, que atingiu 10,1% em outubro - seu mais elevado nível histórico.
O clima desfavorável se refletiu nos índices das principais bolsas de valores do continente, embora as perdas tenham sido menores do que na segunda-feira. Em Londres, o índice FSTE 100 caiu 0,41%, em Frankfurt o DAX recuou 0,14% e em Paris o CAC 40 perdeu 0,73%. A retração mais forte aconteceu em Milão, onde o índice MIB cedeu 1,08%. Pelo segundo dia consecutivo, o custo do refinanciamento de países como Bélgica, Itália, Espanha subiu, e nos três países os spreads das obrigações de 10 anos de validade atingiram seus mais elevados valores desde 1999 em relação aos títulos da dívida da Alemanha, a referência dos investidores.
Trichet. Preocupado com a dificuldade da União Europeia em extinguir a instabilidade, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet chamou atenção, em discurso em Bruxelas, para os indicadores da zona euro, que em média são melhores do que os dos Estados Unidos e do Japão.
"Por exemplo, em 2010 o déficit consolidado da zona euro é de 6,3% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto o dos Estados Unidos é de 11,3% e do Japão, 9,6%. Em 2011, a zona euro terá consolidado 4,5%, e os Estados Unidos 8,9% e o Japão 8,9%", argumentou. "Não creio que a estabilidade da zona euro possa ser colocada em questão de maneira grave, mesmo se ela é atualmente um problema."
Trichet admitiu que países como Irlanda e Grécia vivem momentos graves, mas em ambos os programas de socorro firmados pela UE e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), de ? 85 bilhões e ? 110 bilhões, respectivamente, seriam garantias de reorganização e saneamento financeiro, argumentou o presidente do BCE. "Os dois países ajudados estão em situação de solvência", garantiu, reiterando que não negligencia ''os sérios ajustes necessários''.
O presidente do BCE não é o único a tentar acalmar o mercado. Nos últimos dois dias, ministros da Alemanha, França e Itália, os três maiores mercados da zona euro, também vieram a público garantir a estabilidade de suas economias.
Na Europa, todos fogem da comparação com a Irlanda. "Dizer que a França está ameaçada", reclamou ontem a ministra da Economia, Christine Lagarde, "é indigente". 


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